Estudo revela que expressão gênica pode ser chave para tratamento de glioblastomas
27 de fevereiro de 2018
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Resultados da pesquisa podem ajudar a desenvolver tratamentos mais adequados, com maior impacto na sobrevida de pacientes

Por Samuel Antenor, repórter colaborador SBI/NcgCE
 
Em um artigo publicado na edição de janeiro na revista Oncoimmunology, um grupo de pesquisadores brasileiros apresentou os resultados de uma avaliação sobre o impacto de assinaturas imunológicas na sobrevida de pacientes com glioblastomas, um subtipo de glioma, forma de tumor maligno mais comum no cérebro.
O trabalho, feito em colaboração entre o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi liderado pelo cientista Martín Bonamino, pesquisador do Inca e especialista em Ciência e Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública da Fiocruz, e Guido Lenz, professor da UFRGS.

Quimioterapia com agentes alquilantes auxiliam a beneficiar os pacientes que tem inibição das células imunológicas CD4 e CD8 por populações inibitórias como células mielóides supressoras (MDSC), células T reguladoras (Treg), Macrófagos (Mac)

Com base em informações disponíveis no The Cancer Genome Atlas (TCGA), banco de dados oncológicos sediado nos Estados Unidos, foram observadas a expressão genética (genes expressos nesse tipo de neoplasia) e as meta-assinaturas (representadas pelas células do sistema imune). Com a análise dos resultados, diferentes respostas imunológicas foram encontradas.A interação entre populações celulares do sistema imunológico cria um estado imunológico complexo durante o desenvolvimento dos tumores, influenciando muitas vezes a resposta à terapia. No estudo, os pesquisadores buscaram integrar o impacto de diferentes populações de células imunes, presentes no microambiente tumoral do glioblastoma, na sobrevida global de pacientes.
“Usamos dados registrados nos Estados Unidos pela semelhança na incidência com o Brasil, onde ocorrem cerca de dez mil casos de tumores do sistema nervoso central a cada ano. Desses, metade são gliomas. O problema é que este tipo de tumor não responde bem à radio e à quimioterapia, o que exige novas estratégias terapêuticas”, diz Bonamino.
Os dados depositados no TCGA são públicos, resultantes de pesquisas em diferentes instituições e países. Para aferir os resultados da pesquisa, as informações obtidas foram cruzadas com dados de um segundo banco de dados sobre câncer, também público. “Observamos quais genes relacionados à resposta imune estavam expressos nesses tumores, e como certas células imunológicas presentes no tumor poderiam inibir as células imunes que estariam combatendo o tumor (mecanismo conhecido como imunossupressão). Estas características do tumor poderiam, desse modo, indicar dados a respeito da sobrevida do paciente”, explica.
Segundo o pesquisador, entender todo o processo de formação e evolução dos glioblastomas é um desafio. “Há um senso comum de que respostas imunes ocorrem com menos frequência no sistema nervoso central, pois este tecido seria menos exposto ao sistema imune. Segundo este raciocínio, poucas respostas imunes ocorreriam também nos tumores que se desenvolvem neste tecido, como é o caso dos glioblastomas”, diz Bonamino.
Ele explica que, neste trabalho, verificou-se que certas células imunológicas presentes nos glioblastomas ajudam a combater o tumor, mas acabam inibidas por algumas subpopulações celulares do sistema imune, auxiliando o tumor a se desenvolver. “Verificamos também que os tumores em que esta inibição imunológica está ocorrendo são os que mais se beneficiaram da quimioterapia, sugerindo que este tratamento ajuda a desfazer esta inibição imunológica, liberando o sistema imune para responder contra o tumor”.
Para ele, desfazer esta visão de que há pouca resposta imune nestes tumores é importante, pois aumenta as chances de novas descobertas, a exemplo dos resultados descritos no artigo da Oncoimmunology, considerados promissores.
Martin Bonamino

De acordo com Bonamino, o trabalho serve de embasamento para grupos que atuem na aplicação clínica. “Do ponto de vista imunológico havia poucos dados de avaliação para esse tipo de tumor. Contudo, usando recursos de bioinformática, desenvolvemos algoritmos considerando o perfil do tumor e tipos de respostas imunológicas mais adequadas para o tratamento, o que pode ajudar no aprimoramento de imunoterapias”, afirma.Parte do esforço da pesquisa é ajudar a entender esse processo, identificando as assinaturas de expressão gênica. “Assim, a partir do diagnóstico e da realização de uma biopsia, o paciente teria um acompanhamento para que pudessem ser analisadas as características imunológicas no início e no decorrer do tratamento, o que permitiria entender melhor a evolução da doença”.
Com isso, espera-se entender as características do tumor, num primeiro momento, para, em seguida, ter informações seguras que ajudem a decidir qual o tratamento adequado, com maior impacto na sobrevida de pacientes.
Dados publicados no report anual do Inca revelam que os gliomas representam entre 40% e 60% de todos os tumores do sistema nervoso central registrados no Brasil. A previsão para 2018 é de que 11 mil casos de câncer do sistema nervoso central sejam registrados no país, dos quais cinco a seis mil serão gliomas.
Acesse o resumo do artigo clicando aqui.

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