Mastócitos caminham até a luz dos vasos sanguíneos, onde secretam seus grânulos diretamente na circulação para promover o recrutamento de neutrófilos em um processo inflamatório
07 de julho de 2021
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Autores: Jéssica Assis Pereira e Mateus Silveira Freitas

Editado por: Beatriz R. Ferreira

Referência: Dudeck J, Kotrba J, Immler R, Hoffmann A, Voss M, Alexaki VI, et al. Directional mast cell degranulation of tumor necrosis factor into blood vessels primes neutrophil extravasation. Immunity. 2021;54(3):468-83 e5.

Mastócitos são células inatas, sentinelas do sistema imunológico. Possuem localização tecidual e marginal a vasos sanguíneos, sendo capazes de responder rapidamente a agente agressores. Essas células liberam uma série de fatores inflamatórios, como TNF-α, e medeiam alterações vasculares observadas nos processos inflamatórios, além de contribuírem com o recrutamento e migração de leucócitos. Porém, exatamente como os mastócitos recrutam os neutrófilos circulantes no início da inflamação, ainda estava pouco elucidado.

Dessa forma Dudeck et al. (2021) propuseram-se a clarificar essa questão. Como modelo experimental de inflamação, os autores utilizaram a hipersensibilidade de contato por sensibilização com um hapteno, o denitrofluorobenzeno (DNFB). Utilizando camundongos Mcpt5-cre+ TnfFL/FL (MCΔTnf), em que apenas os mastócitos eram ko para TNF, foi destacada a importância dessa citocina, já que nesses animais o recrutamento de neutrófilos e o inchaço da orelha eram menores que nos animais WT. Então, os autores se perguntaram do porquê de os neutrófilos migrarem menos e observaram que a expressão de quimiocinas (CXCL-1 e CXCL-2) e moléculas de adesão das células endoteliais (ICAM-1, VCAM-1 e P-selectina) apresentavam expressão normal entre o animal MCΔTnf e WT. Além disso, não havia diferença entre o número de neutrófilos recrutados da medula óssea para o sangue entre o animal MCΔTnf e WT. Portanto, a falha deveria estar na ativação e transmigração dos neutrófilos. De fato, os neutrófilos dos animais MCΔTnf apresentavam falha no “rastejamento” pelo endotélio por apresentarem menor expressão de CD11b, cadeia α da integrina MAC-1, principal mediadora desse processo. Desse modo a transmigração para o endotélio era prejudicada no animal MCΔTnf e os neutrófilos eram encontrados em grande quantidade na circulação sanguínea, mesmo após 24 horas de desafio com DNFB, enquanto nos animais WT a transmigração ocorria normalmente.

Analisando a rota de liberação de TNF por mastócitos, utilizando microscopia intravital, os autores observaram uma população de mastócitos intimamente ligada a vênulas e capilares, que apresentavam protusões intravasculares. Além disso, após o desafio com DNFB, foi observado que um número maior de mastócitos se aproximava dos vasos sanguíneos, em um processo denominado “mast cell docking”. De forma interessante, visualizou-se que esses mastócitos eram capazes de secretar seus grânulos diretamente na corrente sanguínea, porém a falta de TNF nos grânulos dos mastócitos dos animais MCΔTnf reduzia a migração de neutrófilos.

Concluindo, os autores mostraram que mastócitos possuem protusões em sua membrana plasmática com acesso direto a vasos sanguíneos, onde depositam seus grânulos citoplasmáticos diretamente na circulação sanguínea. E a presença de TNF nesses grânulos é essencial para a ativação de neutrófilos e êxito na transmigração dessas células para o tecido inflamado.

 

PUBLICADO POR
Vânia Bonato
Colunista Colaborador
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