Inflamassoma: o vigia da integridade mitocondrial
20 de julho de 2023
COMPARTILHAR Facebook Twiter Google Plus

Autoras: Caroline Vitória de Oliveira e Nayara Pereira

Editora: Profa Daniela Carlos Sartori

Seminário apresentado junto ao Curso de Pós-Graduação em Imunologia Básica e Aplicada USP/RP

Referência: Próchnicki, T., Vasconcelos, M.B., Robinson, K.S. et al. Mitochondrial damage activates the NLRP10 inflammasome. Nat Immunol 24, 595–603 (2023). https://doi.org/10.1038/s41590-023-01451-y

O estudo muito interessante na forma de Letter, publicado na revista Nature Immunology em março desse ano, reporta de maneira inédita como o NLRP10 está associado a resposta ao dano à integridade mitocondrial.Os inflamassomas são importantes sensores da homeostasia nas células. Tanto as infeções intracelulares e como o estresse podem desencadear a ativação de receptores intracelulares semelhantes a NOD (NLRs), que por sua vez formam complexos de inflamassoma com a proteína ASC e Caspase-1, levando a morte celular dependente de Gasdermina D (GSDMD) e a liberação e maturação de IL-18 e IL-1β.

Diante da importância dos inflamassomas no desenvolvimento e no estabelecimento de doenças inflamatórias, estudos de moléculas que regulem, ativam ou inibam se tornam alvos para intervenção terapêutica. Embora o inflamassoma NLRP3 seja bastante estudado no contexto de doenças inflamatórias, ainda há um debate sobre os eventos que desencadeiam a ativação desse complexo.

Os autores iniciaram as pesquisas buscando compreender os processos de fluxos iônicos, interações proteína-proteína, proteína lipídio que a ativariam NLRP3. Para isso, utilizaram uma droga candidata agonista de fosfolipase C, m-3M3FBS.  Para surpresa dos autores, m-3M3FBS é capaz de induzir a produção de IL-1β de maneira dependente de mobilização das proteínas ASC e caspase-1 em macrófagos, mas esse fenômeno é independente do NLRP3... Se não for o NLRP3, qual inflamassoma está envolvido nessa ativação?

Para surpresa ainda maior, o inflamassoma NLRP10, anteriormente descrito com inflamassoma regulador da atividade de outros inflamassomas, era o responsável pelo fenótipo observado no tratamento por m-3M3FBS, em células HEK. As evidências mostraram que o mecanismo de ativação do NLRP10 nessas condições envolvia a resposta ao dano mitocondrial, já a estrutura do NLRP10 se colocalizava com proteínas da membrana externa mitocondrial além de identificada alteração da morfologia mitocondrial nas células tratadas com m-3M3FBS.

Posteriormente, os pesquisadores identificaram que o m-3M3FBS estava gerando a formação de punctas de ASC em células que não expressam NLRP10 (iMacs). Assim, ao investigar qual outro possível inflamassoma que poderia estar sendo ativado, descobriram que o m-3M3FBS também é capaz de ativar o inflamassoma de AIM2, gerando não só a formação de punctas de ASC, mas também a liberação de IL-1β.Em adição, os autores demonstraram que o dano mitocondrial está levando a ativação dos inflamassomas de AIM2 e NLRP10, e não o contrário, e que os mecanismos de ativação desses inflamassomas provavelmente são diferentes.

Alguns trabalhos anteriores demonstraram que a ativação da fosfolipase C pode induzir dano mitocondrial por meio da mobilização de cálcio. Os autores, então, tentaram entender se era por esse mecanismo que o m-3M3FBS estava gerando o dano mitocondrial e consequente ativação do inflamassoma de NLRP10. Apesar disso, os achados demonstram que a ativação desse inflamassoma por m-3M3FBS não está relacionado à mobilização do cálcio para o citoplasma da célula.

Ainda, alguns trabalhos na literatura já haviam descrito o NLRP10 como um inflamassoma regulador, uma vez que não gera o recrutamento de ASC e muito menos a clivagem de caspase-1 e liberação de IL-1β. Diferente disso, esse trabalho mostra que a ativação de NLRP10 é capaz não só de recrutar ASC, mas de clivar caspase-1 na sua forma ativa, que por sua vez irá clivar a pró-IL1β e gerar a liberação de IL-1β biologicamente ativa.

Sendo assim, o trabalho em questão demonstra que o dano mitocondrial, aqui gerado pelo uso do agonista de fosfolipase C, m-3M3FBS, é capaz de gerar a ativação do inflamassoma de NLRP10.

Figura 1.  Dano mitocondrial ativa inflamassoma NLPR10. m-3M3FBS: agonista de Fosfolipase C e candidata e estudo. Thapsigargin:  inibidor da Ca2+ - ATPase do reticulo endoplasmático , SMBA1: inibidor da Citocromo sintase, ambas as drogas são conhecidas por causar dano mitocondrial por vias distintas (Controles do experimento).

PUBLICADO POR
SBI Comunicação
Colunista Colaborador
ver todos os artigos desse colunista >
OUTROS SBLOGI
“Nada se perde e nada se cria, tudo se transforma.” Estudo desvenda como o produto do metabolismo glicolítico dos queratinócitos pode alimentar a inflamação tipo 17 na pele
SBI Comunicação
25 de novembro de 2024
Uma via imunoendócrina dependente de IFN-γ promove redução da glicemia para potencialização da resposta imunológica antiviral
SBI Comunicação
04 de novembro de 2024
Restrições alimentares e hídricas aumentam a suscetibilidade a patógenos resistentes a antimicrobianos
SBI Comunicação
04 de novembro de 2024