Lis Antonelli
Laboratório de Biologia e Imunologia de Doenças Infecciosas e Parasitárias, Instituto René Rachou (FIOCRUZ-Minas)
Cientistas brasileiros contribuíram, e continuam contribuindo, para o conhecimento da doença de Chagas, desde quando o primeiro caso foi descrito em 1909 por Carlos Chagas. Este excepcional ícone da ciência brasileira fez algo que ninguém fez: descobriu o agente da doença, o Trypanosoma cruzi, e descreveu a sua via de transmissão e o seu ciclo evolutivo.
Muito tempo se passou desde as suas descobertas, e muitos de nós imunologistas temos contribuído para entender como a infecção com o mesmo parasito pode desencadear doenças diferentes em diversas pessoas. Após a picada do inseto “barbeiro” infectado pelo T. cruzi, podemos nos tornar assintomáticos e permanecer assim pela vida toda. No entanto, algumas pessoas apresentam formas digestivas e cardíacas da doença. A doença cardíaca pode se manifestar com diferentes gravidades; podemos viver quase sem complicações ou desenvolver insuficiência cardíaca e, em alguns casos, até mesmo necessitar de um transplante de coração.
Mas, como isso acontece?
Apesar de muitos pesquisadores estarem estudando para desvendar esta pergunta, ainda não temos respostas definitivas ou conhecimentos suficientes para prevenir que isso aconteça.
Certamente, como na maioria das infecções, o que determina a gravidade da doença não é somente o que a causa, mas também como o hospedeiro, isto é, nosso sistema imunológico, responde à infecção. Sem as células do sistema imunológico não conseguiríamos matar o parasito, mas, por outro lado, se nossa resposta acontece de maneira descontrolada, exacerbada, muitos danos podem acontecer no nosso corpo. Neste caso, o órgão mais frequentemente afetado na doença de Chagas é o nosso coração e esta condição é conhecida como cardiomiopatia crônica da doença de Chagas.
Várias células do nosso sistema imunológico participam dos mecanismos que levam a proteção e ao dano do coração. Grupos de pesquisa, incluindo o nosso, no Laboratório Biologia e Imunologia de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Fiocruz-Minas, estuda o papel dos linfócitos na cardiomiopatia crônica da doença de Chagas. Através de uma técnica amplamente usada na Imunologia, a citometria de fluxo de alta dimensão, exploramos como um tipo específico desses linfócitos, os denominados linfócitos T CD4+, participam da resposta imune quando estamos infectados pelo T. cruzi.
Descobrimos que a infecção, mesmo na sua fase crônica, mantém estes linfócitos ativados, independente da forma clínica do paciente. Mas, os linfócitos T CD4+ apresentam características únicas em pacientes com cardiomiopatia crônica da doença de Chagas. Pacientes que apresentam a forma moderada da cardiopatia possuem: (i) menos linfócitos do tipo reguladores (responsáveis por regular outras células ativadas); e (ii) expansão de células citotóxicas (que produzem substâncias tóxicas para outras células, principalmente aquelas infectadas), e (iii) multifuncionais de memória (que produzem simultaneamente três sustâncias que conferem a elas capacidade de desempenhar várias funções).
Os resultados da nossa pesquisa revelam que pacientes com a doença de Chagas possuem linfócitos altamente ativados. Estes linfócitos estão associadas principalmente ao aparecimento da cardiomiopatia chagásica, sugerindo seu papel no estabelecimento de lesões cardíacas, e podendo ser empregados como potenciais biomarcadores, isto é, sinalizadores, do agravamento da doença.
Como sempre na ciência, ainda temos mais perguntas que respostas. Mas este trabalho trouxe novo conhecimento sobre mecanismos imunes de proteção e doença e revelou elementos da resposta do hospedeiro que podem auxiliar os clínicos no cuidado aos pacientes. E, para nós cientistas, nos guiou a elaborar novas hipóteses.
Voltando a nossa pergunta inicial “Linfócitos T CD4+, até que ponto eles nos auxiliam a controlar a doença de Chagas?”
Os linfócitos T CD4+ são muito importantes nas respostas imunológicas na maioria das doenças. E na doença de Chagas não é diferente. No entanto, o seu desequilíbrio pode comprometer o controle da doença e gerar dano no coração. Contudo, sem dúvida nenhuma, sabemos que é sempre muito melhor contar com eles!
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