O papel da Imunologia na vida das pessoas
24 de abril de 2019
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Por: Ana Paula Lepique, bioquímica e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia


A imunologia é a ciência que estuda respostas do organismo ao ambiente, e que também mantém o equilíbrio geral do organismo, desde o desenvolvimento do feto, até a fase adulta. Problemas em elementos do sistema imune podem ter consequências, às vezes graves, para a saúde das pessoas.
Os estudos de imunologia são relatados há séculos, e o primeiro imunologista famoso foi o médico inglês, Edward Jenner (até por observação de relatos de outros médicos), que percebeu que as pessoas que entravam em contato com gado com varíola apresentavam uma forma atenuada da doença. Nessa época, há relatos de que 60% das pessoas pegavam varíola, e dessas, 20% morriam. Jenner, coletou pus de uma lesão de uma mulher com varíola adquirida por contato com gado com varíola, e usou esse material para inocular um menino. Depois disso, ele inoculou o menino com material de pústulas de varíola humana e o menino não desenvolveu doença. Esse é o primeiro relato formal de um processo de vacinação  e aconteceu em 1796.
O desenvolvimento de diversas outras vacinas ao longo do tempo praticamente erradicou doenças como varíola, sarampo, tétano, poliomielite, difteria, e muitas outras da população humana. Hoje em dia, o desenvolvimento de vacinas continua sendo um campo importante em saúde humana já que novos desafios aparecem sempre.
No Brasil, por exemplo, temos tido exemplos de doenças que previamente estavam controladas, mas voltaram a se espalhar, como a febre amarela e sarampo, e outras que recentemente têm deixado a população muito alarmada como doenças causas pelo ZIKA vírus e Chicungunha. Além disso, não podemos esquecer das vacinas contra gripe, doença que dizimou populações no passado, e que hoje em dia, pelo menos para os vírus já caracterizados, pode ser prevenida por vacinação.
Além das vacinas, o estudo de imunologia tem gerado informações importantes sobre uma série de doenças que são melhor manejadas, pelo conhecimento que obtivemos sobre elas. Doenças autoimunes, onde o sistema imune falha ao diferenciar alvos que devem ou não ser atacados, como esclerose múltipla e artrite reumatoide, podem ser tratadas com diferentes opções terapêuticas, graças à pesquisa que nos levou a compreender melhor os mecanismos dessas doenças.
Por outro lado, imunodeficiências primárias, quando o sistema imune tem um defeito de resposta congênito (ausência da expressão de um fator que é necessário para o controle de uma infecção, por exemplo), podem ser identificadas logo que as crianças nascem, graças a testes que foram desenvolvidos através do estudo de diversos laboratórios de pesquisa pelo mundo. Imunodeficiências adquiridas, que o paciente adquire ao longo da vida, seja por uma infecção viral, como por HIV, seja por idade, seja a que chamamos de iatrogênica, por exemplo, pacientes transplantados que precisam ser imunossuprimidos para evitar que eles rejeitem seus transplantes, são diariamente beneficiados pelos estudos de imunologia. A compreensão dos mecanismos das diferentes doenças é essencial para o melhor atendimento e manejo desses pacientes.
Falando em transplante, estudos de imunologia nos levaram à compreensão de que há diferenças genéticas entre indivíduos da mesma espécie que levam à rejeição de um órgão transplantado de um indivíduo para outro. A rejeição ocorre porque o sistema imune do receptor reconhece o tecido do doador como um corpo estranho. Com todo o conhecimento que temos hoje sobre os mecanismos de rejeição, é possível estudar marcadores genéticos entre doadores e receptores que permitam maior sucesso dos transplantes, além do desenvolvimento de medicamentos que mantenham o receptor imunossuprimido para que o órgão não seja rejeitado.
Outra situação relacionada, mas um pouco diferente é a relação do corpo da mãe com o feto. O feto tem genes do pai e da mãe e com isso é geneticamente diferente da mãe e, portanto, poderia ser rejeitado. O organismo da mãe, porém apresenta uma série de mecanismos de tolerância ao feto. A compressão desses mecanismos tem ajudado mães que rejeitariam seus fetos, através de diferentes tipos de tratamento que previnem ou atenuam respostas de rejeição.
As pesquisas em imunologia culminam no desenvolvimento de imunoterapias contra câncer, que esse ano deram aos pesquisadores James Allison e Tasuku Honjo o prêmio Nobel de medicina. Esse novo tipo de terapia contra câncer foi desenvolvido a partir de estudos que mostram que o sistema imune de pacientes com câncer consegue reconhecer células cancerígenas, mas que existem mecanismos de tolerância e controle que impedem que os pacientes respondam contra os tumores. Como se houvesse um freio para a resposta imune em paciente com câncer. Os novos imunoterápicos eliminam esse freio, permitindo que as respostas imunes do paciente controlem o crescimento tumoral.

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