Foi anunciado no primeiro dia do Immuno 2018 o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia para o americano James P. Allison e o japonês Tasuku Honjo, pelas descobertas dos mecanismos que levaram às imunoterapias contra alguns tipos de câncer. O anúncio foi muito comemorado pelos congressistas, que destacaram o reconhecimento das pesquisas na área da Imunologia, principalmente a importância da pesquisa básica para o desenvolvimento de novos tratamentos.
Segundo o professor João Viola, do Instituto Nacional de Câncer (INCA), é importante o reconhecimento da necessidade da pesquisa básica para a ciência, pois existe uma compreensão equivocada, em alguns meios, sobre os motivos para financiar este tipo de pesquisa.
Ainda que os estudos sobre os mecanismos que desligam o “freio” do sistema imunológico fossem realizados para a compreensão do sistema como um todo, como destacou o professor Antonio Coutinho, da Fundação Champalimaud -Portugal, e um dos conferencistas do congresso, as descobertas possibilitaram aplicações excepcionais, aprimorando o tratamento para o câncer e beneficiando muito pacientes. Coutinho ressalta que ambos os ganhadores contribuíram muito com a Imunologia moderna, não só pelos estudos premiados, e mereciam há muito tempo este reconhecimento.
O cientista Martin Bonamino, do INCA, também comenta a relevância da descoberta para o meio científico, pois eles definiram o conceito das moléculas que regulam negativamente a ativação das células do sistema imune. "Isso realmente é para se destacar, e serve muito para nossa pauta atual de reivindicações para se usar tanto na pesquisa aplicada, mas também na pesquisa básica. Nós temos conceitos muito importantes aprendidos aqui, que depois levaram a estes fármacos, que são importantes para a regulação fina, homeostática, de como o sistema imune funciona numa situação ‘normal’ e pra quebrar essa fisiologia, quando a resposta tem que ser desligada”, explica Bonamino.
O pesquisador Kenneth Gollob, do Hospital A.C. Camargo, conta que, em 1994, assistiu Allison apresentando os primeiros resultados das pesquisas, que indicavam a cura de melanoma em camundongos (o primeiro artigo sairia em 1996). Gollob ressalta que, na época, já se pensava nas possibilidades das descobertas e foram necessários 14 anos para os primeiros tratamentos serem aprovados.
Desafios no tratamento do câncer
Apesar do sucesso, ainda são muitos os desafios a serem superados, segundo os especialistas. Um deles, segundo Gollob, é entender os mecanismos que impedem alguns tipos da doença não responder ao tratamento e revertê-los. Além disso, mesmo nos tipos de câncer que a imunoterapia tem apresentado sucesso, nem todos os pacientes respondem positivamente. Neste ponto, Bonamino relaciona também a viabilidade financeira envolvida no tratamento, especialmente para o sistema público. Segundo ele, é preciso conseguir identificar marcadores que ajudem a prognosticar com mais precisão quais pacientes irão se beneficiar realmente do tratamento.
Outro desafio é que as imunoterapias podem, em alguns casos, originar doenças autoimunes. “O desafio é reativar a resposta antitumoral, sem ativar o braço autoimune”, explica Gollob.
A expectativa de Viola após o anúncio é que o prêmio possa ajudar a pautar a incorporação das imunoterapias contra o câncer na lista de medicamentos do Sistema Único de Saúde (SUS), o que poderia reduzir o custo dos tratamentos para a rede pública.
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