O conhecimento sobre a vacina contra o HIV obteve mais avanços com os resultados do trabalho publicado em janeiro na revista PLoS One (acesse aqui). O estudo são resultado da pesquisa de doutorado de Juliana de Souza Apostolico orientada pela professora Daniela Santoro Rosa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Na UNIFESP, o grupo da professora Daniela busca desenvolver uma vacina contra o HIV que promova a resposta do sistema imunológico gerando anticorpos contra o HIV (resposta imune humoral) e linfócitos T específicos (resposta imune celular).
Para isso, os pesquisadores selecionaram uma glicoproteína (gp140) que está presente na superfície ou “envelope” do vírus HIV. Por meio dela, o vírus se conecta ao receptor da célula-alvo do indivíduo e isso abre portas para os demais processos que resultam na infecção e multiplicação do vírus no organismo.
A imunização com a gp140 já é conhecida desde 2005, considerada segura e vem sendo usada em diferentes ensaios clínicos para gerar anticorpos neutralizantes – impedindo a entrada do HIV na célula-alvo. Porém, é preciso usar substâncias adjuvantes para que a proteção seja efetiva. O destaque do trabalho do grupo é que mais ferramentas são usadas para percorrer esse caminho: “[Esses ensaios] usaram a gp120 monomérica, só uma cadeia da gp120, mas no vírus HIV a gp140 forma um trímero, uma estrutura tridimensional de três moléculas de gp120 e três de gp41. A diferença dos ensaios anteriores é que nós fizemos o trímero e a partir disso também testamos diferentes adjuvantes”, explica a professora.
Assim, como pesquisa de doutorado, Juliana observou a relação do trímero gp140 com oito adjuvantes diferentes para ver qual seria capaz de induzir a melhor resposta de anticorpo. O adjuvante poly (I:C) se sobressaiu induzindo um tipo de resposta imune chamado Th1 produzindo citocinas específicas que são eficazes contra o HIV. Induziu ainda uma resposta de linfócitos T CD4 e CD8, também importantes contra o vírus, entre outras características observadas.
Por meio de ensaios com camundongos, o trabalho de Juliana consistiu em comparar a imunização com o trímero da proteína gp140 com os diferentes adjuvantes avaliando células de baço, células foliculares, de linfonodo, entre outras. Foi possível observar tanto a quantidade quanto a qualidade de anticorpos gerados, assim como longevidade da resposta imune nos camundongos.
Vacinas associadas
Como continuação do trabalho, a imunização com a gp140 indutora da resposta de anticorpos foi associada à vacina de DNA, composta de partes diferentes do vírus que por sua vez induz a resposta imune celular, e que está em desenvolvimento pela equipe da Universidade de São Paulo (USP), dos professores Edécio Cunha-Neto e Jorge Kalil.
A tática é dar uma primeira dose com a vacina de DNA e depois outra com a vacina da proteína gp140. “A gente acredita que trabalhar com as duas vacinas juntas é um caminho mais eficaz contra o HIV sendo capaz de induzir tanto uma resposta de anticorpos quanto de células T”, conta Daniela.
A associação das vacinas foi testada em camundongos na pesquisa de Juliana, e depois em grupo pequeno de macacos, em 2015. “Os dados preliminares indicam que os macacos desenvolveram elevados títulos de anticorpos e agora queremos saber se eles são neutralizantes contra o vírus”, comenta a professora. O próximo passo é obter financiamento para ampliar o ensaio.
Até o momento, o trabalho recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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