Estudo brasileiro publicado na Gastroenterology investiga populações celulares hepáticas e descreve o processo inédito de recuperação após lesão no fígado
Por Paula Vinhas, repórter SBI/NcgCE
Na Imunologia é usualmente adotado que duas semanas após uma lesão hepática, as células mielóides enviadas pela medula óssea para repor as danificadas já aparentam ter trazido o fígado para seu estado normal. Entretanto, um estudo realizado no Centro de Biologia Gastrointestinal, da Universidade Federal de Minas Gerais, mostrou que essa constatação é apenas visual. Apesar das populações de células já terem sido reconstituídas, estas recém-chegadas ainda se encontram imaturas, tornando o fígado disfuncional e suscetível a novas infecções.
Os pesquisadores utilizaram as técnicas de microscopia intravital, sequenciamento génico e CyTOF (um procedimento que mescla a citometria de fluxo e a espectrometria de massa), para identificar as células presentes no fígado. O resultado inédito apontou a presença de duas populações de macrófagos hepáticos e outras duas de monócitos, além de quatro populações de células dendríticas e uma de basófilos, e abre indicação para novas formas de tratamento.O trabalho foi publicado na revista Gastroenterology, uma colaboração entre pesquisadores brasileiros e norteamericanos. E faz parte da tese da doutoranda Bruna David, sob orientação do professor e imunologista Gustavo Menezes.
Após a primeira fase, Menezes e sua equipe utilizaram um modelo quimioterápico em camundongos para induzir a perda de células imunes hepáticas, foi aí que surgiu a primeira surpresa. “Geralmente em duas semanas após uma lesão, a população de células já se recompôs no fígado. O que nós observamos é que apesar das células estarem presentes, elas estão em um estado imaturo, incapazes de defender o fígado, o que gera uma janela de susceptibilidades a infecções. O fígado ainda precisará de duas a três semanas para educar as novas unidades”, explica o professor.
Em dias normais o fígado perde células por morte celular, que são repostas da mesma maneira. A diferença entre a morte celular comum e a lesão hepática é o número de células a serem reconstituídas. Na morte celular, a nova célula chega ao fígado já havendo outras que conhecem suas funções, tornando seu amadurecimento mais rápido, enquanto na lesão hepática, o fígado está vazio e inflamado, o que acaba resultando em um tempo maior para que as novas células se adaptem a sua função.
O estudo pode trazer mudanças para os tratamentos de recuperação do fígado. “Hoje, se um paciente está em processo de recuperação de uma lesão hepática, pode ser administrado um antibiótico para tratar a infecção. Mas com este estudo demonstramos que é indicado um tratamento com anti-inflamatórios, que podem diminuir este período disfuncional e acelerar a educação das novas células no fígado”, conclui Menezes.
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