Biólogo molecular Geraldo A. Passos é convidado a escrever revisão sobre o gene AIRE para revista britânica Immunology
Quando o assunto é tolerância imunológica o gene AIRE, uma sigla em inglês para Regulador Autoimune, vem ganhando cada vez mais o interesse de imunologistas e geneticistas, entre eles o pesquisador Geraldo A. Passos, responsável pelo Laboratório de Imunogenética Molecular da Faculdade de Medicina e de Odontologia de Ribeirão Preto (USP). No ano passado, Passos e sua equipe foram convidados a elaborar uma revisão sobre o gene AIRE para a revista científica britânica Immunology, o resultado foi capa da edição de janeiro de 2018.
Quando o sistema imunológico está em seu funcionamento normal, ele ataca elementos chamados de “não próprios” como patógenos, bactérias, vírus, fungos, protozoários e etc, ou seja, que não são do corpo, e preserva os constituintes “próprios”. Mas como as células de defesa reconhecem o próprio e o não próprio? É neste momento que o gene AIRE mostra sua importância.
Dentro da glândula do timo, especificamente nas células epiteliais medulares tímicas (mTECs), o gene AIRE controla a expressão de milhares de autoantígenos. Isso servirá para apresentar aos timócitos (células T imaturas ainda dentro do timo) quais são as proteínas que constituem o “próprio” do corpo. Aqueles clones de timócitos que “atacam” as proteínas próprias são eliminados ainda dentro timo, antes que migrem à periferia. Esse processo é chamado na imunologia de “seleção negativa” e didaticamente de “educação tímica” dos linfócitos T.
“Podemos tomar o surgimento do diabetes mellitus do tipo 1 (DM-1), que é uma doença autoimune, como exemplo. O timo mostra aos timócitos a insulina, proteína expressa pelo pâncreas e que regula o equilíbrio da glicose no sangue. Se houver algum clone de timócito que ataca a insulina, esse clone é então eliminado durante a seleção negativa e não sai para a periferia. Caso contrário, se esse tipo de clone que é também chamado de “auto reativo” escapar para a periferia, poderá atacar as células beta do pâncreas que produzem a insulina, diminuindo sua produção até que a pessoa adquira um quadro clínico de DM-1.”, explicou Passos.
Quando este gene não funciona corretamente podem surgir outras doenças auto imunes além do DM-1 como a artrite reumatoide, o lúpus eritematoso sistêmico, a poliendocrinopatia do tipo 1 (APS-1) e outras.
Perspectivas na pesquisa
Mas nem sempre foi conhecida a importância do gene AIRE na tolerância imunológica. Os estudos na área se iniciaram em 1997, quando o gene foi descrito e associado a uma síndrome hereditária rara conhecida como poliendocrinopatia autoimune. De acordo com Passos, naquele período os cientistas ainda não vislumbravam a importância desse gene e as pesquisas foram ganhando espaço nos últimos anos.
Apesar de no exterior já haverem diversos grupos de pesquisa analisando a função do gene AIRE, no Brasil pouquíssimos laboratórios têm explorado esse ramo. “Esse estudo da imunogenética molecular é pioneiro no Brasil, nós estamos conseguindo colocar o país em evidência neste tipo de pesquisa das bases moleculares da tolerância imunológica”, ressalta Passos.
Leia a revisão completa publicada na revista Immunology clicando aqui. E para conhecer mais pesquisas sobre o gene AIRE e outras realizadas pelo Laboratório de Imunogenética Molecular da USP de Ribeirão Preto, acesse: sites.usp.br/imunogenetica.
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