Por Camila Costa da Cunha
Estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Universidade de Leuven, na Bélgica, o Laboratório de Saúde Pública de Santa Catarina (LACEN/SC) e a Universidade de Rockefeller, em Nova York, revelou aspectos importantes da resposta imune durante a coevolução Mycobacterium tuberculosis e Homo sapiens. Os resultados, publicados na revista eLife, trazem uma nova perspectiva para a facilitação de diagnósticos e terapias para pacientes infectados com o bacilo da tuberculose.
André Báfica, professor do Laboratório de Imunobiologia da UFSC e coordenador do projeto, estuda há mais de dez anos como as células do sistema imunológico reconhecem o bacilo. No percurso da pesquisa, foi encontrada uma ligação entre a doença e as células-tronco hematopoiéticas, precursoras dos glóbulos sanguíneos. A bactéria causadora da tuberculose manipula essas células, conseguindo sobreviver no corpo humano.
Essa hipótese de estudo nasceu da iniciativa de um estudante de doutorado do laboratório, Murilo Delgobo, que, à época, desejava estudar a relação entre células-tronco e a micobactéria. Surgiu, então, a pergunta: que resposta as células-tronco hematopoiéticas apresentam frente a uma infecção com a micobactéria?
O processo de desenvolvimento durou pouco mais de cinco anos e, após as descobertas feitas em sistemas in vitro sobre a relação das células hematopoiéticas e a bactéria causadora da tuberculose, os autores do trabalho passaram a analisar dados disponíveis publicamente, levando o experimento para a análise do sistema in vivo. Esta parte do projeto contou com a expertise de Johan Van Weyenbergh, pesquisador associado da Univerdidade de Leuven e visitante na UFSC pelo programa de Biologia Computacional Financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
O estudo demonstra que a bactéria causadora da tuberculose humana infecta as células-tronco hematopoiéticas, precursoras dos glóbulos sanguíneos, fazendo-as responder por um processo de amadurecimento das células, o que dá origem a monócitos. Dessa forma, é possível que os monócitos atinjam a corrente sanguínea e, consequentemente, tecidos, como o pulmão.
Os autores do trabalho constataram também que a micobactéria induz citocinas - hormônios de comunicação do sistema imunológico - geradoras de inflamação. Entre as citocinas analisadas, a interleucina 6 se destacou como a possibilidade de um alvo para a terapia em pacientes infectados com tuberculose no futuro.
Ancestralidade
A segunda parte do estudo analisou a relação de ancestralidade entre a micobactéria e o homo sapiens. Por meio de análises de biologia de sistemas, observou-se que as citocinas começaram uma forma diferente de regulação somente em humanos. Essa rede de regulação trouxe à tona a hipótese de que a micobactéria causadora da tuberculose se aloja nos seres humanos por conta do processo de uma nova conexão entre as citocinas durante a evolução da espécie humana.
Se confirmado, isso possibilitará afirmar a existência de uma relação específica da Mycobacterium tuberculosis com os seres humanos e não com outros animais. Essa perspectiva pode ser a chave para novos estudos que relacionam a bactéria causadora da tuberculose com o sistema imunológico. O tratamento atual direcionado para a tuberculose consiste na combinação de antibióticos, durante um período mínimo de seis meses. Esses medicamentos são oferecidos de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Já nos casos de infecção latente (incubada), o tratamento pode ser efetuado com um único medicamento.
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