O estudo foi publicado na revista Frontiers in Immunology e apresentou o primeiro miRNoma da hanseníase
A hanseníase é um problema de saúde pública e é uma doença infectocontagiosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen. Um estudo liderado pelo imunologista Claudio Guedes Salgado, do Laboratório de Dermato-Imunologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) e presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia, descreveu o primeiro miRNoma da hanseníase, possibilitando identificar os microRNAs presentes nos pacientes que participaram da pesquisa. O estudo foi realizado em parceria com o grupo de Genética Humana e Médica da UFPA, coordenado pela pesquisadora Ândrea Kely Ribeiro dos Santos, com a participação de colegas da USP Ribeirão Preto, da Universidade Federal de Uberlândia e da Colorado State University.
Entretanto, o uso desse conjunto de genes restringiu a possibilidade de encontrar novos miRNAs que podem estar envolvidos em diversos mecanismos da doença. No estudo liderado pelo pesquisador Claudio Guedes Salgado, foi examinado o miRNoma de pacientes tuberculóides e lepromatosos, usando biópsias de lesões e amostras de sangue de pacientes com hanseníase que visitaram a Unidade de Referência em Dermatologia Sanitária do Estado do Pará “Dr. Marcello Candia” e comparados com indivíduos saudáveis. Além disso, também foram realizados os testes em diversos municípios do Pará, com visitas domiciliares para exame de portadores da doença e de alunos da rede pública de ensino, onde se tem encontrado entre 3 a 4% dos estudantes com a doença não diagnosticada.Já foram realizados estudos que exploraram o miRNA em pacientes com hanseníase, mas foram feitos com conjuntos pré-determinados de genes como alvos.
“Ao utilizar um conjunto de ferramentas para correlacionar miRNAs de diferentes alvos gênicos, identificamos possíveis interações e redes de miRNAs que podem estar envolvidas na imunofisiopatologia da hanseníase. Fizemos o primeiro miRNoma de hanseníase. O miRNoma nos mostra o que tem de microRNA nos pacientes. Com essa abordagem, identificamos que o perfil de miRNA da hanseníase no sangue é diferente daquele da pele lesionada e que existem quatro grupos principais de genes alvos do miRNA da doença”, explica o pesquisador Claudio Salgado.
Com essa pesquisa, novas moléculas que até então não tinham sido detectadas, foram descobertas e poderão ser estudadas. “A Aquaporina 1 foi um dos alvos dos microRNAs que detectamos. Entre outras funções, ela é uma das responsáveis pela hidratação e pela elasticidade da pele”. A SIGMAR1 é outra molécula que também foi detectada durante a pesquisa. “Essas duas moléculas podem estar envolvidas no mecanismo de dor neuropática dos pacientes”, completa o pesquisador.
Além destas, também foram encontradas outras moléculas participantes de vias de desmielinização e inflamação, como a ROCK1, que também já foi associada como participante em mecanismos de dor neuropática.
A pesquisa revelou novos aspectos da imunofisiopatologia da hanseníase, especialmente no que se trata da regulação do sistema imunológico, apoptose, desmielinização, transição epitélio-mesenquimal (EMT) e dor neuropática. “Na segunda etapa, vamos começar a validar esses marcadores da hanseníase”, afirma Claudio Salgado.
O estudo pode ser consultado no link: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fimmu.2018.00463/full
Mais detalhes sobre o funcionamento do projeto em campo podem ser acessados em: https://www.youtube.com/watch?v=dRszse7bfao
A hanseníase no Brasil
Contudo, o pesquisador alerta que esses números podem ser maiores. “Nos lugares que visitamos, encontramos muitos casos, mas sem diagnóstico. Uma das coisas que contribuem para isso é nós não termos um biomarcador, um exame de laboratório que seja definitivo para hanseníase em todos os casos. Como não tem, dependemos de um exame clínico bem feito, que é o que define a hanseníase”, explica Claudio Guedes Salgado. “Esses microRNAs que descrevemos, abrem novas perspectivas para o melhor entendimento da imunofisiopatologia da hanseníase e para encontrarmos novos marcadores que auxiliem no diagnóstico da doença”, completa.Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, o país identificou 25 mil casos de hanseníase em 2016, o que representa uma diminuição de 42,3% se comparado a 2007, quando foram registrados 40,1 mil casos no Brasil.
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