O Colégio de Ciências da Vida da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que reúne 17 áreas de avaliação, discutiu em conjunto a atual fase da pandemia da Covid-19 e elaborou uma carta aberta à sociedade brasileira. A Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) apoia o documento.
Leia a carta:
CARTA ABERTA
É com muito pesar que, diariamente, temos assistido no Brasil recordes de óbitos por Covid19 serem superados dia após dia. Já contabilizamos mais de 260.000 vidas perdidas, muitas delas poderiam ter sido evitadasse medidas sanitárias eficazes e políticas públicas coordenadas tivessem sido implementadas para a mitigação do espalhamento do vírus.
Nós, coordenadores de área do Colégio Ciências da Vida da CAPES, manifestamos nosso pesar e solidariedade para com todas as famílias que perderam seus entes queridos. Nesse momento sofrido da nossa história, como pesquisadores das áreas da Vida e da Saúde, não poderíamos deixar de nos pronunciar e pedir pela preservação da vida do povo brasileiro, acima de qualquer outra prioridade.
Ressaltamos que grande parte das pesquisas que nos ajudaram a entender vários aspectos da Covid-19 é feita nos Programas de Pós-Graduação da Área das Ciências da Vida, desde aspectos mais fundamentais da biologia do vírus, até estudos na área de saúde pública e pesquisas epidemiológicas. Essas e outras pesquisas relevantes para o desenvolvimento soberano do país estão agora ameaçadas pelos cortes no financiamento à pesquisa feitos nos últimos anos no Brasil. Além disso, essas pesquisas realizadas nesses Programas de Pós-Graduação são conduzidas por estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutores, e, da mesma forma, também o número dessas bolsas tem sido reduzido nos últimos anos, comprometendo futuras gerações de pesquisadores no Brasil.
É importante também destacar o papel que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem desempenhado no enfrentamento dessa crise de saúde pública, apesar de todos os cortes orçamentários que têm sofrido, cortes esses decorrentes em grande parte da EC 95, que tem nos colocado numa camisa de força orçamentária, impedindo que gastos necessários que salvariam vidas fossem feitos.
Dessa forma, nós coordenadores de área nos somamos a tantas outras vozes de protesto e indignação e ratificamos a necessidade das seguintes medidas urgentes no Brasil:
1. Vacinação em massa da população e em velocidade maior do que ocorrida até o presente momento, já que esta é a única estratégia eficaz para conter a evolução da pandemia. Vacina sim, e já, e para todos!
2. Enquanto não conseguimos implementar a vacinação de toda população, é essencial reforçar a adoção de medidas sanitárias que reduzam a taxa de contágio da doença, que podem, inclusive se necessário, incluir o fechamento parcial ou total do comércio não essencial, escolas e serviços em cidades onde o sistema de saúde se aproxima do colapso, para evitar perda de vidas por falta de atendimento. Essas medidas duras e amargas fazem-se necessárias para diminuir a disseminação do vírus, a velocidade com que novos casos surgem e, principalmente, reduzir as chances de aparecimento de novas variantes do vírus;
3. Reforço através de campanhas publicitárias nacionais enfatizando a necessidade imperiosa da adoção das medidas sanitárias recomendadas pelas principais agências mundiais de saúde como o distanciamento social e o uso de equipamentos de proteção individual, como máscaras;
4. Banimento definitivo de tratamentos medicamentosos inócuos e enganosos para a prevenção da infecção pelo coronavírus propagandeados nas mídias sociais, para os quais não existem evidências científicas de sua eficácia. Somente a vacinação e medidas sanitárias preventivas têm esse papel cientificamente comprovado;
5. Maior destinação orçamentária que permita o financiamento das atividades de pesquisa e de bolsas para os estudantes de pós-graduação do país, evitando que grupos de pesquisa e Programas de Pós-Graduação se desmanchem e que cérebros sejam perdidos e
6. Maior destinação orçamentária ao SUS, o maior sistema de saúde pública do globo, que precisa ter condições para garantir atendimento de qualidade aos seus usuários, em especial durante esta pandemia, evitando que médicos tenham que fazer “escolhas de Sofia” inimagináveis e desumanas.
Os coordenadores de área do Colégio Ciências da Vida da CAPES manifestam seu total apoio à Carta da Frente pela Vida, organizada por inúmeras entidades de classe.
Ciência, Saúde e Vida são as nossas causas.
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