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04 de novembro de 2018
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Por: Luis Eduardo Alves Damasceno e Patrick Fernandes (doutorandos IBA/FMRP-USP)
 
Editora: Luciana Benevides
 

 

Nos últimos anos, as dietas ricas em fibras (HFD; high-fiber diet) têm sido associadas a um estilo de vida mais saudável. Esses carboidratos não-digeríveis (ex. inulina) são a principal fonte de energia da microbiota intestinal, as quais por meio da fermentação, produzem os ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs; short chain fatty acids), descritos por desempenharem um papel direto no metabolismo [1]. Trabalhos da literatura tem demonstrado que diferentes ácidos graxos, como o butirato, propionato e acetato, podem modular negativamente a resposta de diferentes células do sistema imunológico via seus receptores (por exemplo: FFAR2 e FFAR3), prevenindo a inflamação exacerbada [2]. Nesse sentido, uma abordagem de HFD foi descrita por reduzir drasticamente a inflamação alérgica em modelo murino via modulação da hematopoese e diminuição da função de células apresentadoras de antígenos [3]. Assim, percebe-se então que SCFAs atuam como imunorreguladores, prevenindo o processo inflamatório como um todo. Embora esse efeito possa ser benéfico em diferentes aspectos, a redução da montagem da resposta imunológica pode acarretar em uma maior susceptibilidade a infecções. No trabalho desenvolvimento por Trompette e colaboradores (2018), buscou-se avaliar quais as consequências de uma HFD sobre a imunopatologia da infecção por Influenza A, a qual acomete milhares de pessoas todos anos e com alta taxa de morbidade e mortalidade em grupos de risco [4].

Inicialmente para a consolidação do modelo, os autores postularam que os animais submetidos a dieta de fibras respondiam melhor a infecção por Influenza A, aumentando a taxa de sobrevivência, diminuindo manifestações clínicas e o dano tecidual. A dieta rica em inulina induz a colonização predominante por bactérias do gênero Bacteroides e Bifidobacterium, essas bactérias fermentam as fibras e as transformam em butirato, o ácido graxo de cadeia curta responsável pela melhor resposta à infecção.

O efeito do butirato no organismo afetou a hematopoiese resultando numa maior produção de uma subpopulação específica de monócitos, conhecidos como patrulheiros (Ly6c-), esses monócitos no tecido tem predisposição a se ativarem alternativamente no pulmão, essa ativação diminuiu a secreção de CXCL1, uma quimiocina importante para a atração de neutrófilos. A ação de neutrófilos nesse tipo de infecção sempre foi uma faca de dois gumes já havendo sido apresentada como benéfica [5] ou maléfica ao hospedeiro [6]. Nesse trabalho os autores evidênciam que a melhora dos animais tratados com a dieta era associada a uma menor migração de neutrófilos para os pulmões, que ocasiona uma menor lesão tecidual sem afetar a resposta imunológica.

Mas apesar de até então os resultados demonstrarem que a melhor resposta dos infectados era devido ao perfil anti-inflamatório, já esperado por esse tipo de dieta, o grande marco do trabalho foi demonstrar que a dieta não só suprime o sistema imunológico gerando uma resposta anti-inflamatória mas também uma resposta ativadora e direcionada. Células T CD8, de animais submetidos a dieta, tinham um aumento substancial no metabolismo e essa diferença levou a um aumento de linfócitos específicos a proteína viral com maior degranulação e reatividade a células infectadas. Com isso os autores demontraram que a dieta rica em fibra não é exclusivamente responsável por respostas anti-inflamatórias, mas sim por respostas imunológicas balanceadas.

Figura 1- Dieta rica em fibras leva modificação na microbiota, os ácidos graxos de cadeia curta produzidos pela fermentação das fibras induzem modificação na hematopoiese, aumento de macrófagos alternativamente ativados e especificidade de linfócitos T CD8 a infecção por Influenza.

 

Referências

  1. Flint HJ, Duncan SH, Scott KP, Louis P. Links between diet, gut microbiota composition and gut metabolism. Proc Nutr Soc. 2015; 74(1):13–22.
  2. Corrêa-Oliveira R, Fachi JL, Vieira A, Sato FT, Vinolo MAR. Regulation of immune cell function by short-chain fatty acids. Clin Transl Immunol [Internet]. 2016; 5(4):e73.
  3. Trompette A, Gollwitzer ES, Yadava K, Sichelstiel AK, Sprenger N, Ngom-Bru C, et al. Gut microbiota metabolism of dietary fiber influences allergic airway disease and hematopoiesis. Nat Med. 20114; 20 (2):159–66.
  4. TROMPETTE, A. et al. Dietary fiber confers protection against Flu by shaping LY6C- patrolling monocyte hematopoiesis and CD8+ T cell metabolism. Imminuty. 2018; 48(5): 992-1005.e8.
  5. TATE, M. D.; IOANNIDIS, L. J.; CROKER, B.; BROWN, L. E.; BROOKS, A. G.; PATRICK, C. The Role of Neutrophils during Mild and Severe Influenza Virus Infections of Mice. Plos One. 2011; 6 (3): 2–11.
  6. SAKAI, S.; KAWAMATA, H.; MANTANI, N.; KOGURE, T.; SHIMADA, Y.; TERASAWA, K.; SAKAI, T.; IMANISHI, N.; OCHIAI, H. Therapeutic Effect of Anti-Macrophage Inflammatory Protein 2 Antibody on Influenza Virus-Induced Pneumonia in Mice. J Virol. 2000; 74 (5):2472–2476.

 

PUBLICADO POR
IBA-FMRP/USP
Colunista Colaborador
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