A Imunologia em tempos de crise sanitária: por que é fundamental desenvolvermos esta ciência?
21 de outubro de 2022
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Por: Cristina Ribeiro de Barros Cardoso

Professora Associada livre docente de Imunologia e Neuroimunoendocrinologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP)

O funcionamento adequado do sistema imunológico é essencial para a proteção contra infecções e controle de doenças imuno-mediadas. O estudo da Imunologia e sua aplicação permeiam a busca e o desenvolvimento de novas soluções para a saúde pública, especialmente em momentos de grandes crises sanitárias. Neste sentido, a consolidação de novos conhecimentos e o estabelecimento de ferramentas biotecnológicas imuno-baseadas estão em constante progresso e têm fundamentado grandes avanços como vacinas, novos tratamentos farmacológicos e imunoterapias. Sendo assim, não apenas a Imunologia tem sido a base para diversas inovações aplicadas à saúde, como também os avanços tecnológicos do mundo moderno têm propiciado o desenvolvimento dos estudos sobre imunidade. De forma mais simplificada, podemos dizer que trabalhar pela Imunologia é fundamentar conhecimentos que podem ser aplicados em inúmeras áreas, como na reumatologia, infectologia, microbiologia, imunoterapia para o câncer e outras relacionadas à saúde humana e também veterinária.

Considerando especialmente as crises sanitárias internas ou mundiais, a Imunologia sempre assumiu papel de destaque em seu enfrentamento, como na peste, cólera, influenza, ebola, varíola e sarampo, dentre outras doenças. Porém, não há como negar que esta ciência foi alçada a um dos seus maiores papéis na saúde mundial, nos últimos tempos.

Como todos sabem, há quase três anos estamos vivendo uma emergência sanitária global, com a pandemia de COVID-19. A infecção pelo vírus SARS-CoV-2 e suas consequências, incluindo a perda de milhões de vidas em todo o mundo, colocaram em evidência a importância crucial da vacinação, a despeito da onda negacionista que tenta se contrapor aos avanços da ciência. Desde o século XVIII, quando o médico inglês Edward Jenner deu os primeiros passos em direção ao desenvolvimento das vacinas, a imunização contra agentes infecciosos tem se mostrado fundamental para a proteção contra as doenças por eles provocadas. Entretanto, mesmo com uma certa popularização da Imunologia durante a pandemia, o seu desconhecimento por parte da população ainda compromete as medidas de saúde pública que são necessárias para seu enfrentamento.

Neste contexto, assumimos uma responsabilidade ainda maior com a sociedade: é preciso esclarecer a população com a difusão de informações adequadas (e corretas) sobre a tão falada “imunidade”, assim como é preciso estar preparado para o enfrentamento deste e de outros desafios sanitários que ainda estão por vir. Afinal, o que seria desta pandemia se não tivéssemos conhecimento sobre resposta imunológica, interação antígeno-anticorpo, biotecnologia para desenvolvimento de testes diagnósticos e, principalmente, vacinas? Quantas vidas não teriam sido poupadas?

A história brasileira mostra que, desde a remota época de Vital Brazil ou Oswaldo Cruz, temos grandes cientistas capazes de desenvolver a boa ciência aplicada à saúde e com alta qualidade, a despeito do escasso investimento nas pesquisas. Podemos citar o desenvolvimento local de anticorpos monoclonais, soroterapia, CAR T cells, síntese de peptídeos, imunodiagnóstico, ensaios clínicos e produção de vacinas, dentre tantas outras áreas de grande relevância onde os imunologistas brasileiros atuam. Entretanto, é preciso investir e subsidiar a ciência de forma a estarmos preparados para os próximos desafios, que com certeza virão. Neste sentido, é importante falar sobre Imunologia. É importante estudar Imunologia. É importante fazer Imunologia e, acima de tudo, é importante apoiar a Imunologia, uma área essencial para o progresso da ciência e da tecnologia em saúde, especialmente em épocas de grandes crises sanitárias mundiais.

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