A ORQUESTRA DAS PLAQUETAS: reprogramando células T reguladoras e macrófagos M2 na resolução da inflamação pulmonar
04 de outubro de 2021
Autores: Alexsander de Moraes e Paulo Henrique do Prado Almeida
Editado por Daniela Carlos Sartori
Referência:
Rossaint, J.; Thomas, K.; Mersmann, S.; Skupski, J.; Margraf, A.; Tekath, T.; Jouvene, C. C.; Dalli, J.; Hidalgo, A.; Meuth, S. G.; Soehnlein, O.; Zarbock, A. Platelets orchestrate the resolution of pulmonary inflammation in mice by T reg cell repositioning and macrophage education. J Exp Med, v. 218, n. 7, e20201353. 2021. doi: 10.1084/jem.20201353.
A inflamação pulmonar, induzida principalmente por infecções ou lesão no pulmão, é caracterizada por um aumento no número de neutrófilos, que são necessários para a eliminação de patógenos, mas também podem causar danos teciduais ao liberarem o conteúdo de seus grânulos. Para a resolução da inflamação pulmonar, os neutrófilos precisam sofrer apoptose e serem eficientemente fagocitados por macrófagos, em um processo denominado eferocitose. Sabe-se que no início da inflamação pulmonar, as plaquetas que são fragmentos celulares de megacariócitos amplamente conhecidos por sua importância na manutenção da hemostasia, são requeridas para o recrutamento de neutrófilos circulantes para os alvéolos pulmonares. Embora tal função imunológica de plaquetas seja conhecida, pouco se sabia sobre outros efeitos imunológicos das mesmas em outras fases da inflamação pulmonar. Portanto, em um estudo publicado recentemente no Journal of Experimental Medicine (JEM), Rossaint e colaboradores, utilizando um modelo experimental de pneumonia induzida em camundongos deficientes de plaquetas (Pf4iDTR), neutrófilos (Mrp8iDTR) e células T reguladoras (T reg; FoxP3DTR - DEREG), demonstraram que as plaquetas são essenciais também para a resolução da inflamação pulmonar.
Inicialmente, os autores evidenciaram que animais deficientes de plaquetas apresentaram inflamação pulmonar persistente quando comparados àqueles animais que possuíam plaquetas, nos quais houve resolução da inflamação após cinco dias da indução de pneumonia. Tal inflamação foi demarcada pelo acúmulo prolongado de neutrófilos viáveis e baixo número de neutrófilos apoptóticos no pulmão, o que resultou em remodelamento tecidual fibrótico e reduzida capacidade de expansão do órgão após duas semanas da indução de pneumonia. De forma interessante, os autores evidenciaram que, além de se agregarem aos neutrófilos via contato direto, as plaquetas também se aderem as células T reg, porém durante a fase de resolução da inflamação. Tal achado instigou os autores investigarem de forma mais detalhada a interação plaqueta-célula T reg. Sendo assim, evidenciaram uma dinâmica de expressão da proteína PSGL-1 – ligante da P-selectina exposta na superfície de plaquetas ativadas – que estava mais expressa na superfície de neutrófilos durante o início da inflamação, mas declinava durante a fase resolutiva, onde começava a ocorrer maior expressão na superfície das células T reg. De forma interessante, os autores verificaram ainda a presença de agregados de plaquetas em células T reg dentro do pulmão, além de demonstrarem que as plaquetas são necessárias para o recrutamento de células T reg ao órgão. Ainda, foi constatado que animais deficientes de plaquetas apresentavam redução acentuada do número de células T reg no pulmão, que foi correlacionada com a persistência de neutrófilos viáveis no mesmo compartimento.
Por fim, sabendo da capacidade de plaquetas em modular as respostas de células T reg, os autores hipotetizaram que as plaquetas poderiam impactar de alguma forma as respostas imunológicas de macrófagos alveolares. Entretanto, os autores não encontraram evidências sobre o envolvimento das plaquetas no recrutamento dos macrófagos para o pulmão inflamado. Contudo, após análises do perfil de transcrição gênica dos macrófagos, os autores descobriram que as plaquetas têm a capacidade de reprogramar os macrófagos para um perfil anti-inflamatório do tipo M2. Essa reprogramação foi possível devido a produtos solúveis liberados a partir da interação plaqueta-célula T reg – provavelmente as citocinas IL-10 e TGFβ – que foi necessária para a eficiente eferocitose de neutrófilos pelos macrófagos alveolares, sendo que tal mecanismo que foi fundamental para resolução da inflamação pulmonar.
Em conjunto, os dados obtidos por Rossaint e colaboradores demonstram um papel crucial de plaquetas em orquestrar a resolução da inflamação pulmonar, conduzindo as células T reg e macrófagos M2 a restringirem respostas imunológicas persistentes de neutrófilos (Figura 1).
Figura 1. Representação esquemática do estudo de Rossaint e colaboradores. Durante a fase inicial da inflamação pulmonar, a interação direta com plaquetas é necessária para que neutrófilos adentrem os alvéolos pulmonares e medeiem a resposta imunológica inicial. Já durante a fase final/resolutiva da inflamação, as células T reguladoras, mas não os macrófagos, precisam interagir diretamente com plaquetas para adentrar ao pulmão e, em conjunto, ambas atuam na reprogramação de macrófagos para um perfil anti-inflamatório (M2), os quais atuam na eferocitose eficiente de neutrófilos apoptóticos, controlando assim a inflamação pulmonar.
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