Anticorpos de camelídeos como estratégia para o desenvolvimento de produtos úteis ao diagnóstico e tratamento do envenenamento por toxinas animais
01 de agosto de 2018
COMPARTILHAR Facebook Twiter Google Plus

Marcos Barros Luiz; Soraya dos Santos Pereira; Naan Rodrigues Gonçalves; Juliana Pavan Zuliani; Andreimar Martins Soares; Rodrigo Guerino Stabeli; Carla Freire Celedonio Fernandes.

Apesar dos avanços tecnológicos relacionados a produção e ao controle de qualidade dos antivenenos, a soroterapia antiofídica enfrenta problemas relacionados com a eficiência de neutralização de toxinas em tecidos profundos, reações de hipersensibilidade e o elevado custo de produção. Entre as ferramentas de vanguarda para superar esses desafios, estão os nanocorpos de camelídeos. Os nanocorpos ou VHH são domínios monoméricos de reconhecimento antigênico, identificados em anticorpos funcionais constituídos apenas por cadeias pesadas, produzidos por lhamas, alpacas, camelos, dromedários, vicunhas e guanacos (Figura 1). Com cerca de 14 kDa, são capazes de reconhecer e neutralizar toxinas animais. O pequeno tamanho e alta similaridade com anticorpos humanos contribuem para a baixa imunogenicidade do insumo. Nanocorpos são estáveis a variações de temperatura e podem ser produzidos em diferentes formatos, seja por meio de sistema de expressão procarioto ou eucarioto. Utilizando a tecnologia Phage Display, o presente trabalho selecionou nanocorpos capazes de reconhecer e neutralizar a crotoxina, toxina majoritária do veneno da serpente Crotalus durissus terrificus, constituída por uma fosfolipase A2 (CB) e uma subunidade sem atividade tóxica (CA). Além da especificidade a venenos e toxinas do gênero Crotalus, os nanocorpos apresentaram  afinidade em escala nano ou micromolar e termoestabilidade. Ensaios in silico indicaram que o clone KF498604 interage com a interface CA-CB da crotoxina, parecendo bloquear o acesso ao substrato. Os VHHs selecionados podem ser alternativas para a construção de produtos úteis ao diagnóstico ou tratamento do envenenamento crotálico.

Figura 1. Representação esquemática de imunoglobulinas G (IgG) de camelídeos. IgG2 e 3 são desprovidas de CH1, cadeia leve e possuem uma única região de reconhecimento antigênico denominada nanocorpo ou VHH. Em IgG2, a ausência de CH1 é compensada pela região de dobradiça mais prolongada. Diferente da região variável da cadeia pesada de anticorpos convencionais, o VHH apresenta substituições de aminoácidos hidrofóbicos por hidrofílicos na FR2 (em roxo), além de alças CDR1 e 3 mais prolongadas (azul e verde). Apresenta ainda ponte dissulfeto entre os resíduos de Cys24(FR1)-Cys96 (FR3) canônica em VH/VHH (em vermelho), e podem apresentar pontes dissulfeto entre Cys52(FR2)-Cys106(CDR3) (em amarelo), estabilizando a alça CDR3 (Adaptado de KUBY et al., 2007; MUYLDERMANS, 2013).

Referencia:
LUIZ, M. B. et al. Camelid Single-Domain Antibodies (VHHs) against Crotoxin: A Basis for Developing Modular Building Blocks for the Enhancement of Treatment or Diagnosis of Crotalic Envenoming. Toxins, v.10, n. 4, p.142- 2018.

PUBLICADO POR
SBI Comunicação
Colunista Colaborador
ver todos os artigos desse colunista >
OUTROS SBLOGI
Gotículas lipídicas extracelulares carregadas com alarmina induzem a infiltração de neutrófilos nas vias aéreas durante a inflamação do tipo 2
SBI Comunicação
16 de dezembro de 2024
“Nada se perde e nada se cria, tudo se transforma.” Estudo desvenda como o produto do metabolismo glicolítico dos queratinócitos pode alimentar a inflamação tipo 17 na pele
SBI Comunicação
25 de novembro de 2024
Uma via imunoendócrina dependente de IFN-γ promove redução da glicemia para potencialização da resposta imunológica antiviral
SBI Comunicação
04 de novembro de 2024