Letícia Penteado e Marcílio Fumagalli
Editado por Vânia Bonato
Linfócitos T CD4+ helper 17 (Th17) participam da patogênese de doenças inflamatórias autoimunes, como doença de Crohn, colite e esclerose. Entretanto, permanece a ser melhor explorado o papel das células Th17 intestinais geradas em resposta à microbiota comensal, que sabidamente são importantes para a manutenção da integridade e arquitetura intestinal (Lee, J. S. et al, 2015), indução de IgA (Hirota, K. et al. 2013) e maturação de funções imunológicas em neonatos. A grande questão é se essas células Th17 que contribuem para a inflamação e patologia das doenças autoimunes são adquiridas por uma perda de tolerância de células Th17 geradas pela microbiota intestinal, que passam a adquirir um perfil inflamatório, ou se são células Th17 próinflamatórias geradas a partir de linfócitos T CD4+ naive.
Um grupo de pesquisa inglês do Instituto Francis Crick, liderado por Brigitta Stockinger, observou em camundongos o desenvolvimento de diferentes subpopulações de células Th17 induzidas em resposta à presença de bactérias comensais filamentosas segmentadas (SFB) ou da bactéria patogênica Citrobacter rodentium. SFB foram capazes de induzir maior proliferação de células Th17 tecido-residentes com alta capacidade de secreção de IL-22 e IL-17, e que não apresentam distribuição sistêmica. Entretanto, tal subpopulação não apresentou atividade próinflamatória, sendo, portanto, incapaz de controlar a infeção por C. rodentium. No entanto, a colonização do intestino por C. rodentium induziu acentuado desenvolvimento de células Th17 próinflamatórias, capazes de secretar elevados níveis de IFN-g e controlar a infecção. Ainda, essas células inflamatórias foram capazes de se distribuir na periferia e de adquirir plasticidade para o perfil Th1. A análise transcricional dessas duas subpopulações mostrou acentuada diferença no perfil metabólico, no qual células Th17 homeostáticas induzidas por bactérias comensais apresentaram metabolismo típico de células quiescentes ou de memória, cuja produção energética é dependente da fosforilação oxidativa (respiração celular) e elevada capacidade de produção de produtos antioxidantes. Em contraste, células Th17 induzidas pela infecção com C. rodentium apresentaram elevada atividade metabólica relacionada principalmente à via glicolítica, característica típica de células efetoras inflamatórias.
Os achados deste trabalho advertem quanto a importância de elucidar as diferentes características das células Th17 homeostáticas e inflamatórias para a possível descoberta de marcadores específicos capazes de discriminar as subpopulações como candidatos terapêuticos no tratamento das doenças inflamatórias intestinais, com o propósito de reduzir possíveis efeitos adversos sabidamente relacionados à redução da atividade de células Th17 homeostáticas.
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