Como identificar o teste mais adequado para Covid-19
24 de julho de 2020
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Por: Luara Isabela dos Santos*

Muitas notícias saem diariamente sobre a COVID-19 (SARS-CoV-2), mas você já parou para pensar se está entendendo todos os termos ou simplesmente aceitando o que está sendo falado? Então vamos simplificar. Se você precisasse fazer um teste hoje para saber se está infectado com o vírus, qual teste faria? Sabemos que os testes disponíveis hoje são os testes para detecção do antígeno ou dos anticorpos. Então vamos aos termos...
 
Antígeno
O termo antígeno se refere ao alvo que precisa ser combatido. Assim no caso da COVID-19 o antígeno é o vírus. Você deve ter ouvido falar que o diagnóstico da infecção é realizado pelo teste do antígeno, afinal é por ele que detectamos o SARS-CoV-2. Em estudos com pacientes sintomáticos hospitalizados foi possível encontrar o SARS-CoV-2 na coleta de amostra nasal após 1 dia do início dos sintomas, com maior quantidade do vírus em cerca de 5 a 7 dias, quando então começa a diminuir a carga viral [1]. É como se você estivesse vendo o lançamento de um foguete. No inicio é mais fácil enxergar, mas depois do lançamento a distância do foguete impossibilita a sua visualização. Para o vírus, ao invés da distância é a carga viral que determina a detecção ("visualização"). Assim, a partir de 3 dias de sintomas é mais fácil a detecção do vírus, pois temos uma carga viral aumentando e com o passar do tempo essa carga viral diminui e não é possível mais a detecção. Em alguns pacientes hospitalizados essa detecção foi possível no máximo até 28 dias após o inicio dos sintomas [1]. O que tem sido demonstrado é que, em indivíduos com sintomas moderados, após cerca de 9 dias do início dos sintomas o vírus parece não ser mais capaz de infectar outras pessoas [1][2]. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que os indivíduos sintomáticos devem ser mantidos isolados até 10 dias do início dos sintomas acrescidos de 3 dias sem sintomas [2]. Assim se o paciente teve sintomas por 3 dias, ele poderá ser liberado do isolamento após 13 dias do início dos sintomas (10+3), se o paciente teve sintomas por 15 dias, ele será liberado após 18 dias (15+3). Para os indivíduos assintomáticos o isolamento é considerado de 10 dias a partir do resultado positivo para o teste do antígeno, o SARS-CoV-2 [2,3].
 
Anticorpos
Os anticorpos são produzidos como parte da resposta imune, a defesa do nosso corpo, e foram produzidos pois identificamos o antígeno invasor. Agora imagine em uma guerra. Os anticorpos são soldados dessa guerra e eles são tão bem treinados que lutam especificamente contra o alvo. Eles não são a única defesa do nosso corpo, mas vamos deixar as outras defesas para outro momento. O que aconteceu é que identificamos o alvo e produzimos as imunoglobulinas (o outro nome para anticorpos, abreviando fica Ig) para conter o vírus. Assim quando é realizado o teste de IgM e IgG na COVID-19 o que está sendo observado é a resposta imune produzida contra o vírus, estamos procurando os nossos soldados. A presença desses anticorpos foi observada 7 dias após o início dos sintomas em metade dos pacientes hospitalizados e após 14 dias foi possível detectar em todos os pacientes [1]. Esse tempo é importante, pois é como se estivéssemos preparando os nossos soldados para chegar na guerra. Nos indivíduos assintomáticos foi observado menor quantidade de anticorpos quando comparado aos sintomáticos na fase aguda[4].
 
Então...
Ainda há muito a ser entendido, como por exemplo, por quanto tempo os anticorpos específicos produzidos permanecerão no nosso corpo e quais outras defesas são importantes para controlar o vírus. Essas e outras perguntas estão sendo desenvolvidas por pesquisadores brasileiros e internacionais.
 
E você, agora já sabe quando olhar para o foguete ou procurar pelos soldados, ou melhor, responder o que significa fazer o teste para o antígeno ou o anticorpo?
 
Até a próxima!
 
Referências

  1. Wölfel R, Corman VM, Guggemos W, Seilmaier M, Zange S, Müller MA, et al. Virological assessment of hospitalized patients with COVID-2019. Nature. Nature Research; 2020;581: 465–469. doi:10.1038/s41586-020-2196-x
  2. World Health Organization. Clinical management of COVID-19 [Internet]. [cited 11 Jul 2020]. Available: https://www.who.int/publications/i/item/clinical-management-of-covid-19
  3. World Health Organization. Criteria for releasing COVID-19 patients from isolation [Internet]. [cited 11 Jul 2020]. Available: https://www.who.int/news-room/commentaries/detail/criteria-for-releasing-covid-19-patients-from-isolation
  4. Long QX, Tang XJ, Shi QL, Li Q, Deng HJ, Yuan J, et al. Clinical and immunological assessment of asymptomatic SARS-CoV-2 infections. Nat Med. Nature Research; 2020; 1–5. doi:10.1038/s41591-020-0965-6

 
*Luara Isabela dos Santos é coordenadora e professora das disciplinas de Imunologia e Genética aplicadas a Medicina na Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG). Pós-doutora pela Universidade Federal de Minas Gerais (2018), pelo IRR/FIOCRUZ-MG (2014 e 2016/17) e pela Universidade de Oxford/Inglaterra (2015). Possui graduação em Farmácia com ênfase em Bioquímica/Análises Clínicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (2007) e título de Mestrado (2009) e Doutorado (2013) em Imunologia pelo departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG.
** Os conteúdos publicados no SBlogI são autorais e de responsabilidade dos(as) autores(as), não representando a opinião de qualquer patrocinador da Sociedade Brasileira de Imunologia.
 
 

PUBLICADO POR
Luara Isabela dos Santos
Colunista Colaborador
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