COVID-19, resposta imune e obesidade - Para onde estamos caminhando?
28 de abril de 2021
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Autora: Doutoranda Jéssica Pereira

Laboratório de Imunometabolismo

Universidade de Campinas

Editor chefe: Prof. Pedro M Moraes Vieira

Laboratório de Imunometabolismo

Universidade de Campinas

Com a explosão dos casos de COVID-19 pelo mundo, muito tem se falado sobre fatores de risco e a importância de um sistema imune “fortalecido”, mas o que isso realmente significa e de que maneira nossos hábitos nutricionais impactam sobre isso?

De uma maneira simplificada, fatores de riscos são condições pré-estabelecidas que favorecem ou tornam as pessoas mais vulneráveis ao desenvolvimento de algumas doenças. No caso da infecção pelo SARS-Cov2, fatores como idade, diabetes e excesso de peso não só favorecem a infecção viral como também contribuem para o agravamento e severidade da doença.

 

E qual é a correlação disso tudo com imunidade? Muito simples! Nosso corpo possui diversas células, que são estruturas bem pequenas mas altamente especializadas. Células são responsáveis por desempenhar uma infinidade de tarefas, havendo uma célula para cada função. Por exemplo, células do pâncreas são responsáveis pela produção de hormônios como a insulina, enquanto células imunes atuam na manutenção da homeostase tecidual e na resposta contra agentes infecciosos como vírus e bactérias.

Assim como uma máquina, para que nosso organismo fique em homeostase, o corpo precisa estar funcionando adequadamente de forma sistêmica. Não é novidade para ninguém que quando envelhecemos nossas células deixam de trabalhar em sua melhor performance. Porém, o que muita gente não sabe é que algumas condições como a obesidade também pode prejudicar a resposta de nossas células imunes.

Isso acontece porque em pessoas obesas as células responsáveis por armazenar gordura, chamadas de adipócitos, recebem tanta gordura para armazenar que aumentam seu número e tamanho, gerando um tipo de estresse no tecido a qual pertencem, chamado tecido adiposo. Além dos adipócitos, o tecido adiposo também possui outros tipos celulares, como células imunes. Mas se a função de células imunes é defender contra organismos invasores, o que elas estão fazendo lá???

Acontece que ao contrário do que muita gente pensa, as células imunes desempenham um papel que vai muito além da resposta contra organismos invasores. Na verdade, elas atuam como vigilantes do nosso corpo, auxiliando na manutenção do equilíbrio e reparo a possíveis danos gerados.

Pensando nessa vigilância, o estresse gerado no tecido adiposo em condições de obesidade faz com que as células imunes deixem de trabalham na manutenção do equilíbrio e passem a exibir características que favorecem sua função inflamatória, e como consequência, geram um aumento na inflamação no tecido adiposo e no nosso organismo como um todo. E essa inflamação é só o começo, pois juntamente com a inflamação uma série de outras doenças são originadas, como por exemplo, resistência à insulina e diabetes.

Sabendo desse efeito da obesidade sobre a resposta das células imunes, pesquisadores do mundo todo começaram a investigar como a obesidade pode favorecer a infecção por vírus como o SARS-Cov2.

Em uma dessas pesquisas, os cientistas descobriram que os elevados níveis de glicose no sangue observados em pessoas diabéticas levam a um aumento na capacidade de infecção viral e prejudica o funcionamento das células imunes, fazendo com que esses indivíduos tenham maiores chances de desenvolver a forma severa da COVID-19. Também foi mostrado que o tecido adiposo de pessoas obesas pode atuar como um reservatório do coronavírus. Além disso, pessoas obesas apresentam também pré-disposição para o desenvolvimento de doenças respiratórias, o que aumenta as chances da necessidade de intubação nesses indivíduos. De fato, outro grupo de pesquisadores mostrou que pessoas obesas ou com doenças desencadeadas pela obesidade como diabetes e hipertensão correspondem a cerca de 60% dos infectados com SARS-Cov2.

É importante você saber que os cientistas não estão somente no laboratório para descobrir o que está causando ou pode agravar uma doença, mas que essas informações são valiosas para que esses mesmos cientistas possam começar a pensar em maneiras de tratar ou prevenir o agravamento da COVID-19 e, até mesmo, de outras doenças. Isso não significa que haverá uma fórmula mágica para levar a acabar com a pandemia, mas sim que uma melhora considerável na qualidade de vida das pessoas, assim como uma potencial redução do contágio. E se você pensar que a ciência está aparecendo só agora por causa da pandemia, você está muito enganado. A pesquisa científica está inclusive na dipirona que você toma. Você já parou para pensar quanto estudo e trabalho de pesquisa foi feito para que a dipirona e outros fármacos chegassem até você?

Bom, mas isso é outra história. Por aqui, vamos continuar fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para nos proteger e proteger ao próximo. E como fazer isso? Colocando em prática as recomendações obtidas com base nas descobertas de cientistas, algumas das quais você já conhece: Usar máscara, higienizar as mãos, manter o distanciamento social e torcer para que o maior número de pessoas sejam vacinadas o quanto antes. Além disso, pensando em tudo o que aprendemos com essa leitura, a prática de atividades físicas e uma alimentação balanceada poderá trazer grandes benefícios, não somente evitando que você esteja no grupo de risco da COVID-19, mas que também possa ter uma melhora na sua qualidade de vida.

 

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