Selo do Ministério da Saúde sobre o esclarecimento de notícias falsas.
Por Dinler Antunes, Bacharel em Biomedicina pela UFRGS, Mestrado e Doutorado pelo PPGBM/UFRGS e pós-doutorado pela Rice University (Texas/EUA).
A pandemia de COVID-19 vai entrar para história como um evento sem precedentes. Embora naturalmente esta não seja a primeira pandemia da história, uma série de fatores fazem esta pandemia ser diferente daquilo que vimos anteriormente. Uma das diferenças diz respeito a velocidade com a pandemia se espalhou pelo globo. Esta velocidade está relacionada a algumas características do vírus (alta taxa de infecção, longo período de encubação), mas também a algumas características da nossa sociedade moderna. Nunca antes o mundo foi tão conectado e houve um fluxo tão grande pessoas, viajando com certa facilidade e rapidez entre países geograficamente distantes.
Outra "novidade" nesta pandemia é a velocidade de espalhamento da informação. Por exemplo, um artigo publicado em uma revista científica, com dados de pesquisa em um tópico específico, dificilmente recebem atenção imediata da mídia. Eles repercutem entre grupos de especialistas trabalhando na área, e aos poucos vão abrindo caminho em direção ao público leigo. Este processo pode levar anos. Com a COVID-19, no entanto, cada novo artigo que sugere um possível tratamento é imediatamente divulgado nas mídias sociais. Em questão de horas, pessoas no sul do Brasil, no interior do Zimbabwe, e no norte da Mongólia já estão sabendo o nome da medicação e tentando descobrir se é algo que pode ser comprado na farmácia local.
Esta facilidade de acesso a informação é fantástica, mas também apresenta uma série de desafios. Um deles diz respeito a responsabilidade sobre a divulgação científica. Sobre o impacto negativo que promessas falsas ou exageradas podem ter sobre a confiança do público na ciência, e sobre o impacto direto sobre a saúde pública; como no caso de inúmeras pessoas que morreram ao tentar se automedicar com produtos contendo cloroquina.
Mas talvez mais preocupante do que as confusões sinceras decorrentes da divulgação inapropriada ou incompleta de informações de origem confiável, seja o fato de que para cada informação correta circulam na internet uma infinidade de informações completamente falsas. Baseadas em achismos pessoais, na interpretação errada de dados, ou intencionalmente manipuladas para suportar teorias conspiratórias, ideologias políticas ou dogmas religiosos. Navegar por este oceano de informação e ser capaz de filtrar as mensagens confiáveis não é nada fácil. Exige treino, embasamento técnico, paciência, e tempo; muito tempo.
O problema é a que a maioria de nós não tem tempo, não tem paciência, e também não teve treinamento para fazer este tipo de filtragem. Conforme discutido pelo Dr. Átila Iamarino em seu TED Talk sobre a Educação para o Futuro, o nosso sistema educacional ainda não prepara as pessoas para fazerem esta constante checagem de fatos, e para saberem avaliar a confiabilidade da fonte da informação. Para piorar, as nossas divisões políticas e a arquitetura das nossas redes sociais incentivam a disseminação de "memes" e soluções simples, em detrimento de discussões mais longas e mais complexas.
Felizmente a solução para este problema de excesso de informação não é "desligar" a internet. Pelo contrário. Devemos aprender a usar a tecnologia para nos ajudar a navegar neste oceano de informações. E esta é outra novidade da pandemia de COVID-19, conforme explica o Dr. Uilvim Ettore Gardin Franco.
"A pandemia em que vivemos nesse momento, se difere de outras do passado pela qualidade e velocidade do acesso às informações. Hoje é possível mapear e ter conhecimento sobre o avanço da doença, não só o poder público, mas também, a sociedade. Os dashboards criados para o Brasil e o Texas, visam informar de forma clara e interativa os dados que estão sendo disponibilizados pelos respectivos órgãos de saúde. Desta maneira, por meio dos mapas e gráficos, podemos auxiliar na conscientização da população utilizando dados oficiais".
Uilvim Ettore Gardin Franco, Engenheiro ambiental e Especialista em Geoprocessamento.
Uilvim trabalha no Laboratório de Estudos Espaciais do Centro de Pesquisas Computacionais da Rice University (Houston, Texas, EUA). Este grupo desenvolveu atlas interativos para estudar o desenvolvimento social e urbano de várias cidades, incluindo Rio de Janeiro e Brasília. Agora eles utilizaram sua expertise para criar um site que concentra informações sobre o progresso da COVID-19 (coronavirusnobrasil.org), importando dados diretamente do Ministério da Saúde e das Secretarias da Saúde dos Estados.
Demonstração do site coronavirusnobrasil.org realizada pelo Dr. Uilvim durante o último encontro (online) do PUB Houston.
Sites como este, são fontes confiáveis de dados atualizados sobre a pandemia. O site do Ministério da Saúde, do Centro de Controle de Doenças (CDC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) estão entre as melhores fontes para informações adicionais.
No entanto, recorrer a estas fontes primárias para esclarecer boatos pode ser um processo indireto e frustrante. Para facilitar esta tarefa, o Ministério da Saúde criou uma página dedicada ao esclarecimento de notícias falsas. O Ministério também criou uma conta de WhatsApp que as pessoas podem usar para enviar gratuitamente mensagens com imagens ou textos que tenham recebido nas redes sociais, para confirmar se a informação procede, antes de continuar compartilhando. O número é (61)99289-4640.
Alguns sites dedicados a checagem de fatos em geral também estão fazendo cobertura de tópicos relativos a COVID-19. Entre eles eu destaco a Agência Lupa, o E-Farsas e o Boatos.org. Sem mencionar o trabalho contínuo de divulgadores de ciência como Drauzio Varella, Átila Iamarino, Pirulla, a equipe do Dragões de Garagem e tantos outros.
Diversos sites dos EUA também estão dedicados ao combate de informações falsas. Eu destaco o site Stop the Spread of Rumors, mantido pelo CDC. Também existem alguns serviços de checagem mais focados nas afirmações de políticos e autoridades, incluindo o FactCheck.org e o Politifact.
Finalmente, também existem sites interessantes para os acadêmicos que querem ir direto a fonte e buscar artigos de revistas científicas. Neste contexto, a revista Nature publicou no dia 2 de Abril um resumo das novidades na pesquisa em COVID-19. Mas uma ferramenta muito interessante é o COVID-19 Open Research Map (imagem acima). Uma explicação sobre o projeto pode ser encontrada aqui. Em resumo, esta plataforma facilita a identificação de clusters de publicações sobre tópicos relacionados.
E antes de repassar aquela mensagem com uma cura milagrosa ou uma revelação bombástica, lembre-se: Na dúvida, é melhor não compartilhar!!!. Conter a vontade de compartilhar talvez seja o maior desafio. Pois mesmo que você concorde com tudo que foi dito, mesmo que você sinta que esta é a opinião/explicação mais correta/completa sobre este tópico, isso não garante que o conteúdo é confiável, ou correto, portanto não é o suficiente para decidir compartilhar. Sobretudo porque não sabemos as consequências negativas que uma informação incompleta/incorreta pode desencadear. Na dúvida, curta, mas não compartilhe.
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