Entenda como o estresse psicológico aumenta a suscetibilidade a infecções cutâneas na pele por meio da ação de TGF-β em fibroblastos
11 de junho de 2025
COMPARTILHAR Facebook Twiter Google Plus

Autores: Christian Ferreira Alves e Jackeline Marino Lucas

Editor: Ademilson Panunto Castelo

Seminário apresentado junto ao Curso de Pós-Graduação em Imunologia Básica e Aplicada USP/RP

 

O estudo intitulado “Psychological stress increases skin infection through the action of TGFβ to suppress immune-acting fibroblasts”, publicado na revista Science Immunology por Hung Chan e colaboradores [1], demonstrou que o estresse psicológico inibe a ação protetora de fibroblastos contra infecções cutâneas.

 

A relação entre o estresse psicológico e a suscetibilidade a infecções tem sido amplamente investigada nas últimas décadas, com evidências indicando que esse fator pode aumentar o risco de infecções respiratórias e gastrointestinais [2,3,4]. Sabe-se que os hormônios glicocorticoides e adrenérgicos gerados pelo estresse, via eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), têm ação sobre células do sistema imunológico em diferentes órgãos. Na pele, tais células possuem receptores para esses hormônios, o que pode estar relacionado à imunossupressão e, portanto, suscetibilidade a infecções [5]. Um efeito comum quando a pele entra em contato com microrganismos é a adipogênese reativa, na qual fibroblastos da derme se diferenciam em pré-adipócitos, e, posteriormente, em adipócitos [6]. Esses pré-adipócitos desempenham papel importante na secreção de catelicidinas (CRAMP - peptídeo bacteriolítico da pele) e beta-defensinas frente a infecções, inibindo a replicação de bactérias patogênicas na pele [7,8,9]. Estudos anteriores demonstraram que a citocina fator de crescimento transformador beta (TGF-β) pode ter relação com a diminuição da diferenciação de fibroblastos em pré-adipócitos, comprometendo a geração de peptídeos antimicrobianos [10]. Através desse cenário, o objetivo do artigo de Chan e cols., 2025 [1], foi entender como o estresse psicológico reduz a produção de peptídeos antimicrobianos na pele e qual o papel de TGF-β nesse contexto.

 

Neste estudo, foi usado um modelo de estresse psicológico em camundongos, por contenção física, por três horas, durante três dias. Após inoculação dérmica de Staphylococcus aureus, este estresse resultou em maior área de lesão cutânea e aumento do número de unidades formadoras de colônias (UFC) quando comparado a animais não estressados. Este fenômeno está associado à ativação do eixo HPA, uma vez que a adrenalectomia ou a administração de antagonistas adrenérgicos preveniu o aumento da suscetibilidade à infecção em animais submetidos ao estresse. A análise transcriptômica revelou uma expressão reduzida de genes relacionados ao metabolismo lipídico na pele dos animais estressados. Corroborando esses dados, a análise histológica mostrou redução da camada adiposa dérmica e aumento da concentração de ácidos graxos livres, sugerindo um processo de lipólise local. Ademais, observou-se uma diminuição acentuada da população de fibroblastos cutâneos e de fibroblastos pré-adipócitos produtores de CRAMP, bem como uma regulação negativa de vias associadas às respostas de defesa nessas células. Em animais com deleção condicional de CRAMP em fibroblastos, verificou-se que estes se tornaram suscetíveis à infecção por S. aureus, independentemente da presença de estresse, sublinhando o papel essencial do CRAMP derivado de fibroblastos pré-adipócitos na proteção cutânea.

 

Por fim, os autores demonstraram que o estresse psicológico induz o aumento da sinalização do TGF-β e as concentrações plasmáticas dessa citocina. A neutralização de TGF-β ou a deleção do seu receptor em fibroblastos impediu a suscetibilidade à infecção induzida por estresse. Estes resultados sugerem que o aumento de TGF-β inibe a diferenciação de fibroblastos em pré-adipócitos, comprometendo a produção de CRAMP e, consequentemente, a defesa antimicrobiana da pele. Assim, este estudo elucida um mecanismo pelo qual o estresse psicológico compromete a imunidade cutânea, promovendo a suscetibilidade à infeção por S. aureus através da inibição da diferenciação de fibroblastos em células produtoras de CRAMP, mediada por TGF-β.

 

Resumo gráfico- Estresse psicológico aumenta a suscetibilidade à infecção na pele mediada pela ação de TGF-B em fibroblastos. A resposta ineficaz à infecção por S. aureus na pele está associada à redução da adipogênese dérmica a partir de fibroblastos, o que leva à diminuição da produção do peptídeo antimicrobiano catelicidina. Essa limitação na resposta imunológica local aumenta a suscetibilidade à infecção, sendo este efeito mediado pela sinalização aumentada de TGF-β, induzida pelo estresse psicológico. Adaptado de: Chen et al., 2019 [6].

 

Referências bibliográficas:

  1. CHAN H, et al. Psychological stress increases skin infection through the action of TGFβ to suppress immune-acting fibroblasts. Sci Immunol, v. 10, n. 106, 2025. doi: 10.1126/sciimmunol.ads0519.
  2. COHEN S, TYRRELL DAJ, SMITH, AP. Psychological stress and susceptibility to the common cold. N Engl J Med, v. 325, n. 9, p. 606-612, 1991. doi: 10.1056/nejm199108293250903.
  3. LAFUSE, William et al. Psychological stress creates an immune suppressive environment in the lung that increases susceptibility of aged mice to Mycobacterium tuberculosis Front Cell Infect Microbiol, v. 12, artigo 990402, 2022. doi: 10.3389/fcimb.2022.990402
  4. EVENSTEIN S, et al. Psychological stress increases risk for peptic ulcer, regardless of Helicobacter pylori infection or use of nonsteroidal anti-inflammatory drugs. Clin Gastroenterol Hepatol, 13, n. 3, p. 498-506, 2015. doi: 10.1016/j.cgh.2014.07.052.
  5. ZHANG H., et al. Role of stress in skin diseases: a neuroendocrine-immune interaction view. Brain Behav Immun, v. 116, p. 286-302, 2024. doi: 10.1016/j.bbi.2023.12.005.
  6. CHEN S, ZHANG L-J, GALLO RL. Dermal white adipose tissue: a newly recognized layer of skin innate defense. J Invest Dermatol, v. 139, n. 5, p. 1002-1009, 2019. doi: 10.1016/j.jid.2018.12.031.
  7. ZHANG C, et al. Skin immunity: dissecting the complex biology of our body's outer barrier. Mucosal Immunol, v. 15, n. 4, p. 551-561, 2022. doi: 10.1038/s41385-022-00505-y.
  8. DEAN SN, BISHOP BM, VAN HOEK ML. Natural and synthetic cathelicidin peptides with anti-microbial and anti-biofilm activity against Staphylococcus aureus. BMC Microbiol, v. 11, artigo 114, 2011. doi: 10.1186/1471-2180-11-114.
  9. O’NEILL, Alan M et al. Antimicrobial production by perifollicular dermal preadipocytes is essential to the pathophysiology of acne. Sci Transl Med, v. 14, n. 632, artigo eabh1478 doi: 10.1126/scitranslmed.abh1478.
  10. ZHANG, Ling-Juan et al. Age-related loss of innate immune antimicrobial function of dermal fat is mediated by transforming growth factor beta. Immunity, 50, n. 1, p. 121-136, 2019. doi: 10.1016/j.immuni.2018.11.003.
PUBLICADO POR
SBI Comunicação
Colunista Colaborador
ver todos os artigos desse colunista >
OUTROS SBLOGI
Entenda como o estresse psicológico aumenta a suscetibilidade a infecções cutâneas na pele por meio da ação de TGF-β em fibroblastos
SBI Comunicação
11 de junho de 2025
Interação Imune na Lactação: O Papel Crucial dos Linfócitos Intraepiteliais Mamários na Saúde Materna e Neonatal
SBI Comunicação
19 de maio de 2025
Barreira imunológica na bexiga: papel dos macrófagos suburoteliais na prevenção da urossepse
SBI Comunicação
07 de maio de 2025