Entre tubarões e vacinas o que você escolheria?
17 de outubro de 2022
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Por: Luara Isabela dos Santos

Pesquisadora, coordenadora e professora das disciplinas de Imunologia e de Genética aplicadas à Medicina na Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG)

O final do ano está chegando e muitas famílias começam a pensar na programação das férias. Esse é um momento mágico para criar memórias e para descansar de um período exaustivo de trabalho (seja qual for o seu). Até aí todos concordam. Agora vamos caminhar para a polêmica. 

Imagine que você tem a escolha de dois destinos para a sua viagem: o primeiro te dará o direito de ir para um mar paradisíaco com a temperatura ideal para mergulhos; o segundo é muito semelhante, mas o mar está repleto de tubarões famintos. 

Qual destino você escolherá passar os dias com seus entes mais amados? Você irá mergulhar em um mar seguro ou se arriscará livremente com os tubarões? 

Acredito que todos iremos para o mar paradisíaco e seguro sem nenhuma polêmica. E onde está a polêmica que te prometi? Na próxima pergunta: você já vacinou os seus filhos? É com muito pesar que te conto que os números das coberturas vacinais estão muito baixos e as doenças que poderiam ser prevenidas pela vacinação estão aparecendo em surtos pelo Brasil. 

Vejamos o exemplo da meningite. Você deve ter ouvido falar sobre o alerta para os casos de meningite em São Paulo e em vários estados. A meningite é causada principalmente por bactérias ou vírus que causam uma inflamação nas meninges. A transmissão ocorre geralmente através das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta ou, dependendo do agente patogênico, pela ingestão de água e alimentos contaminados e contato com as fezes. 

As meningites provocadas por vírus costumam ser mais leves e os sintomas se parecem com os das gripes e resfriados. No entanto, as meningites bacterianas, causadas principalmente pela bactéria Neisseria meningitidis, são mais graves e em pouco tempo a pessoa pode apresentar febre alta, mal-estar, vômitos, dor forte de cabeça e no pescoço, dificuldade para encostar o queixo no peito e, às vezes, manchas vermelhas espalhadas pelo corpo. 

A taxa de letalidade é preocupante (10 a 20%) e as sequelas entre os sobreviventes podem incluir surdez, amputação de membros ou comprometimentos neurológicos. Assustador, não é? 

Como poderíamos explicar a baixa cobertura vacinal nesses casos? A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem uma explicação clara: as pessoas esqueceram das consequências da doença e assim não recorrem à prevenção. 

A vacina contra o meningococo C está disponível na rede pública no calendário de rotina para crianças e adolescentes e, mais recentemente, a ACWY foi incorporada para a faixa de 11 e 12 anos. Ainda, na rede privada, há disponível além da ACWY para todos os públicos, a vacina contra o meningococo B. Infelizmente, apesar de tudo isso, a cobertura vacinal contra o meningococo C não chegou a 46%, segundo os dados do DataSUS, do Ministério da Saúde. 

Os dados são alarmantes, a doença muito preocupante e os surtos atuais são letreiros luminosos gigantescos sinalizando como temos sido omissos com a prevenção dessas doenças. 

Espero que nesse momento você consiga enxergar que muitos estão escolhendo nadar com os tubarões e, pior, comprando bilhetes para que os seus amados familiares vivam perigosamente. Minha família e eu optamos pelo mar paradisíaco e você?

 

 

 

 

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