Autoras: Larissa Pinto de Andrade e Núbia Sabrina Martins
Editora: Vanessa Carregaro
Seminário apresentado junto ao Curso de Pós-Graduação em Imunologia Básica e Aplicada USP/RP
O conceito de imunidade treinada refere-se à capacidade de células da imunidade inata (macrófagos, monócitos, células natural killer (NK)) responderem com mais efetividade frente à reexposição a um determinado antígeno. Evidências recentes têm demonstrado o papel de infecções virais respiratórias, especialmente a infecção pelo vírus influenza (IAV), no “treinamento” de macrófagos alveolares (AMs), permitindo uma proteção contra uma infecção bacteriana secundária. Os AMs consistem em células da imunidade inata residentes nos pulmões que exercem papel fundamental na homeostase do tecido. No contexto tumoral, os AM são o principal tipo celular imune que se infiltra nos tumores e promovem uma imunidade pró-tumoral, ou seja, favorece o desenvolvimento do tumor. Terapias focadas na reprogramação de macrófagos associados ao tumor têm sido estudadas, focando na indução de uma maior capacidade pró-inflamatória e antitumoral. Considerando que infecções respiratórias podem induzir o “treinamento” de AMs e, portanto, apresentam maior potencial pró-inflamatório, o trabalho intitulado “Influenza-trained mucosal-resident alveolar macrophages confer long-term antitumor immunity in the lungs”, publicado por Wang e colaboradores em fevereiro de 2023, buscou descrever o potencial papel de AMs “treinados” pela exposição prévia ao vírus IAV na imunidade antitumoral nos pulmões.
O trabalho apresentou que camundongos previamente expostos ao IAV apresentaram proteção no desenvolvimento tumoral no tecido pulmonar de forma duradoura. Ao avaliar mecanismos celulares envolvidos no processo, apresentou-se que os AMs treinados possuíam maior capacidade fagocítica e aumento de mecanismos de citotoxicidade, dados demonstrados a partir de análises de sequenciamento de célula única (scRNAseq) e acessibilidade à cromatina (ATACseq). Uma vez que esses macrófagos possuem origem embrionária, verificou-se pela expressão de genes relacionados a essa origem a ontologia dos AMs envolvidos na imunidade treinada via exposição ao IAV.
Além disso, o grupo ainda demonstrou que o desenvolvimento tumoral é favorecido por um estado de imunossupressão desse local, e esse processo foi revertido com transferência adoptiva de macrófagos treinados pela exposição ao vírus IAV. Por fim, ainda verificou-se que, tanto a geração dos AMs “treinados”, quanto a imunidade antitumoral no tecido pulmonar mediada por estas células, são independentes de células T e que a liberação de IFNγ pelas células NK favorecem a imunidade treinada dos AMs.
De forma geral, o estudo trouxe o potencial dos AMs como alvo terapêutico no estudo do câncer de pulmão devido ao treinamento dessas células após exposição ao IAV.
Figura 1. Macrófagos alveolares “treinados” pela exposição ao vírus Influenza possuem maior capacidade fagocítica e de killing de células tumorais, de modo a favorecer uma imunidade antitumoral no tecido pulmonar, com ação medida pela liberação de IFNγ pelas células natural killers (NK).
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