Por: Allana Ferreira da Costa Pessoa e Lucas Gabriel Rodrigues Venturini (doutorandos IBA-FMRP/USP)
Editora: Luciana Benevides
A doença provocada pelo Ebola vírus (EVD) foi descrita pela primeira vez em 1976 e, até 2013, todos os casos somados desta doença não chegavam a 2500, com uma mortalidade de 82% e exclusivamente em regiões do oeste africano e da República Federativa do Congo. Contudo, durante os anos de 2013-2016 houve uma epidemia sem precedentes com um total de 28.646 casos e 11.323 mortes, com pessoas infectadas chegando aos continentes europeu e americano (1). Esse foi o ponto inicial para o desenvolvimento de tratamentos que sejam eficazes durante uma possível nova epidemia. Com esse propósito, investiu-se na produção de anticorpos neutralizantes que alvejam um importante fator de virulência do vírus, a glicoproteína viral (GP). A glicoproteína é responsável pela ancoragem do vírus a célula do hospedeiro e a fusão viral ao endossomo após ser macropinocitado (2) o que permite sua replicação, por isso anticorpos que tem a capacidade de se ligar a GP vêm sendo amplamente estudados, como os coquetéis Zmapp, REGN-EB3 e o anticorpo monoclonal mAb 114 que conseguiram autorização para testes em humanos³. Porém uma limitação dos atuais anticorpos é a existência de 5 espécies virais que são consideradas dentro do gênero Ebolavirus, entre elas, Zaire, Bundibugyo e Sudan que são responsáveis pelo desenvolvimento da infecção em humanos. Os atuais anticorpos neutralizantes são exclusivos para a espécie Zaire, responsável pelas últimas epidemias, porém não se pode prever qual espécie seria responsável por uma próxima.
Assim, Saphire e colaboradores (3) traz como inovação o desenvolvimento de uma nova abordagem terapêutica com anticorpo Pan-Ebola vírus que poderiam ser utilizados no tratamento de qualquer uma das 3 espécies infectantes. Foi demonstrado o isolamento dos anticorpos pan-ebolavírus EBOV-442, EBOV-515 e EBOV-520 do plasma de sobreviventes da última epidemia do vírus Ebola na África. Esses anticorpos promoveram uma alta taxa de neutralização in vitro das espécies EBOV, SUDV, BDBV e proteção em camundongos inoculados com o EBOV. O EBOV-442 liga-se fortemente na região da capa de glicano da glicoproteína do vírus não clivada, enquanto o EBOV-515 e o EBOV-520 ligam-se fortemente na região base da glicoproteína clivada. Na análise de mapeamento de epítopos, foi observado que o EBOV-515 e EBOV-520 reconhecem diferentes epítopos na região base da glicoproteína. Além disso, o EBOV-520 liga-se a um único epítopo quaternário altamente conservado próximo ao RBS e, portanto, representa uma classe distinta de potente anticorpo monoclonal humano que poderia atuar principalmente pela neutralização direta do vírus (Figura 1).
Figura 1: Anticorpos Pan-Ebola vírus foram isolados do plasma de sobreviventes da última epidemia do vírus ebola que ocorreu entre os anos de 2013 e 2014. Esses anticorpos demonstraram capacidade de neutralizar as três principais espécies do vírus Ebola, Zaire, Bundibugyo e Sudan e de conferir proteção em modelos animais. Os epítopos de ligação dos anticorpos na glicoproteína viral foram identificados.
Referências
- COLTART, C. E. M. et al. The Ebola outbreak, 2013–2016: old lessons for new epidemics. Phil. Trans. R. Soc. B, v. 372, n. 1721, p. 20160297, 2017.
- DAVEY, R. A. et al. Mechanisms of filovirus entry. In: Marburg-and Ebolaviruses. Springer, Cham, 2017. p. 323-352.
- SAPHIRE, E. O. et al. Systematic analysis of monoclonal antibodies against Ebola virus GP defines features that contribute to protection. Cell, v. 174, n. 4, p. 938-952. e13, 2018.
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