Pesquisadoras compartilharam histórias emocionantes ao longo da palestra
No dia 17 de maio, a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) realizou a mesa redonda “Mulheres na Ciência”, uma discussão científica que fez parte do Pint of Science Brasil. O evento aconteceu em São Paulo tendo como objetivo apresentar e debater experiências reais vividas por mulheres e homens que buscam por condições igualitárias e justas de trabalho, remuneração e reconhecimento feminino em suas áreas de atuação.
Esta foi a primeira vez que a cidade de São Paulo organizou um bate-papo dentro da linha de atuação “Our Society” do Pint of Science, uma ação realizada dentro de uma programação estendida que acontece apenas em grandes metrópoles mundiais e que, em São Paulo, incluiu também uma mesa com a temática “Tech Me Out”.
A mesa redonda contou com a participação de pesquisadoras: Denise Morais da Fonseca, vencedora do SBI Women in Science 2017, Sabine Righetti, jornalista especializada em coberturas científicas e Julia Jaccoud, criadora do canal “A Matemaníaca” no YouTube, com Ana Paula Morales, editora executiva da revista Ciência&Cultura, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Após os cases e relatos apresentados pelas palestrantes, o evento contou com a forte participação do público através de perguntas e muitos depoimentos. Diversas mulheres levantaram de suas mesas e foram até o palco compartilhar experiências de preconceito vivido dentro dos laboratórios, estereótipos de que cientista é um homem de jaleco branco, dificuldade em retomar a carreira depois da maternidade, entre outros assuntos.
A maternidade e a ciência
Em meio a tantos assuntos que permeiam o universo da mulher na Ciência, a maternidade foi um dos temas mais abordados, pois quando a pesquisadora retorna da licença maternidade, ela precisa retomar a sua produtividade já que por conta do período fora ela deixou de publicar.
Muitas mulheres que estavam presentes relataram suas próprias experiências, contando como foi difícil retomar a carreira depois que tiveram filhos. Houve relatos de bolsas suspensas, financiamentos interrompidos, devido a falta de produtividade dessa cientista, agora mãe. “Poderia se pensar, por exemplo, em linhas de financiamentos para pesquisa pós-maternidade. Porque quando essa mulher volta e vai solicitar um financiamento, ela vai competir com um homem ou com outra mulher que não tenha filho, mas que está publicando muito mais artigos do que ela. É nessa hora que ela será medida e até excluída”, sugeriu Denise Fonseca.
A organizadora nacional do Pint of Science, Natália Pasternak, também falou sobre esse desafio, abordando a dificuldade que muitas mães encontram em delegar os cuidados dos filhos aos pais, e principalmente, ao curto tempo da licença paternidade que acaba não sendo benéfica nem para os filhos, nem para os pais e muitos menos, para a cientista que agora precisa lidar com o seu retorno ao laboratório.
“Temos um tempo que precisamos ficar afastadas dos nossos trabalhos, mas como mães temos dificuldade em delegar o cuidado dos filhos, principalmente quando ainda são bebês. Precisamos levar isso em consideração, por ser uma questão cultural, de que precisamos aprender a dividir e necessitamos de políticas públicas que apoiem essa decisão, como o período da licença maternidade e paternidade”, comenta.
Alguns homens se manifestaram em apoio à temática, como o André Cardoso, da BD Bioscience, que compartilhou a experiência que teve na Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG) quando, na época, pleiteava-se a licença maternidade para bolsistas CNPq, e que ressaltou ao final de sua apresentação a importância de todos se unirem, independente do gênero, por essa causa.
Mulheres inspiradoras, pouco reconhecimento
Muitas participantes ao prestarem seus depoimentos e perguntas, lembraram o exemplo de Marie Curie, que além de ser a primeira mulher a conquistar um Prêmio Nobel, foi também a primeira pessoa a ganhar duas vezes o prêmio e a única até hoje a vencer em duas áreas distintas. O que ainda chama a atenção, é que apenas 16 prêmios Nobel – somando as áreas de Química, Física e Medicina, foram concedidos a mulheres, em um total de 320 premiações.
O papel das mulheres na literatura também foi lembrado pela Taty Leite, do canal do YouTube “Vá Ler um Livro” que incentivou a leitura de livros escritos por mulheres, citando o caso da autora da saga Harry Potter, J. K. Rowling, que usava apenas as iniciais do seu nome para poder ser aceita entre os leitores.
Cada um pode fazer sua parte
Foram sugeridas outras medidas para a valorização da mulher na ciência e no mercado de trabalho, a jornalista Sabine Righetti relatou a sua experiência na área e como ela lida com essa situação durante as entrevistas que precisa fazer. “Há dois anos comecei a fazer parte do movimento ‘Sem elas não tem conversa’. Pela minha profissão, sou convidada a fazer mediação em conversas e debates científicos, e a minha condição para participar dessas ações é que tenha que ter pelo menos uma mulher”, comenta Sabine. Ela propôs que os participantes pensassem nisso quando estiverem organizando eventos ou outras atividades, se tem uma mulher envolvida, fazendo parte dessa ação.
Ao final do evento, o público foi convidado a levar essa discussão para o dia a dia, refletindo o que têm feito para mudar esse cenário e como pequenas ações podem ajudar as mulheres de todas as áreas, não apenas no meio científico.
O evento também contou com o apoio do Núcleo Criativo e de Gestão em Ciência e Educação (NcgCE).
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