Protegendo a mucosa: ILCs induzem estado anti-viral na ausência de infecção e favorecem a limpeza do tecido
26 de abril de 2021
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Autoras: Beatriz Lima Adjafre, Natalia Serra Mendes

Editado por: Vanessa Carregaro

Artigo: Shannon JP, Vrba SM, Reynoso GV, Wynne-Jones E, Kamenyeva O, Malo CS, Cherry CR, McManus DT, Hickman HD. Group 1 innate lymphoid-cell-derived interferon-γ maintains anti-viral vigilance in the mucosal epithelium. Immunity. Feb 9;54(2):276-290.e5, (2021).

Tecidos de barreira, como as mucosas, são a primeira linha de defesa do corpo contra a invasão de patógenos. Em homeostase, células residentes fazem o patrulhamento do tecido, e quando uma infecção se instala, têm-se a ação destas e de células que emigram da circulação. Dentre as células residentes, temos as células linfoides inatas (ILCs), um grupo de linfócitos residentes que respondem prontamente aos patógenos invasores. Entretanto, a biologia do grupo 1 de células linfoides inatas (ILCs1), no contexto de resposta à infecção viral, ainda tem pontos a serem elucidados. Isso porque, além das ILCs, o grupo inclui as células natural killer (NK), que apresentam papel já bem caracterizado nesse tipo de resposta. A fim de investigar mais profundamente o tema, Shannon e colaboradores (2021) estabeleceram um modelo murino de infecção pelo vírus da vaccínia de poxvírus (VACV), e, a partir dele, determinaram os mecanismos de defesa da mucosa oral pelas ILCs.

Já é estabelecido que a resposta anti-viral ocorre por meio da morte da célula infectada, fenômeno este, mediado por citocinas secretadas no local da infecção e também por ação de células NK (mais precocemente) e por linfócitos T CD8 (mais tardiamente). Shannon e colaboradores reportaram, de maneira interessante, que no modelo empregado por eles, as ILCs residentes na mucosa apresentam uma função de manutenção de um estado anti-viral com a produção de IFN-γ antes mesmo da invasão do organismo pelo vírus. Esse IFN-γ produzido prepara a maquinaria de células da imunidade inata residentes da mucosa para fornecer uma resposta anti-viral mediante a liberação de citocinas como CXCL10. De maneira interessante, o bloqueio da produção de IFN-γ cessa completamente a expressão dos genes responsáveis pelas respostas anti-virais.

Apesar da dificuldade em diferenciar as duas populações (ILC1s e NKs), os autores empregaram diversas metodologias de depleção celular, utilizando animais nocautes condicionais e também depleções com tratamento com anticorpos específicos; e demostraram que as ILC1s apresentam um papel relevante na manutenção desse estado anti-viral em homeostase e também impedindo a replicação viral de forma precoce, contribuindo para uma resolução eficiente da infecção (Figura 1). Porém, devido à dificuldade metodológica, as células NK não podem, até o momento, serem excluídas desse processo.

O trabalho também traz luz ao comportamento de patrulha de ILC1s na mucosa oral, mostrando que estas comportam-se de forma semelhante à outras células residentes de outros tecidos (como os linfócitos Tγδ no intestino), ressaltando, cada vez mais, que as ILCs não são apenas células coadjuvantes da resposta imune, mas apresentam um papel significativo na proteção do organismo contra invasores.

Figura 1. ILC1s mantêm um estado antiviral homeostático na mucosa oral. As ILC1s localizam-se nas camadas basais do epitélio da mucosa oral em contato com a membrana basal e movem-se lentamente através do epitélio da mucosa, em estado estacionário. Essas células produzem IFNγ durante a homeostase, resultando no estabelecimento de um estado antiviral do epitélio da mucosa por meio de genes antivirais regulados por IFNγ. Quando a mucosa é invadida por um vírus, a expressão de tais genes suprime a replicação viral.

PUBLICADO POR
Vânia Bonato
Colunista Colaborador
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