A medula óssea do crânio e de vértebras são fornecedoras de células mielóides para meninges
10 de julho de 2021
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Autores: Guilherme Cesar Martelossi Cebinelli e Lorraynne Letycia Prado da Cruz

Editado por: Daniela Carlos Sartori

Referência: Cugurra et al. Skull and vertebral bone marrow are myeloid cell reservoirs for the meninges and CNS parenchyma. Science, 2021

As células mielóides apresentam vasta heterogeneidade e diversas funções efetoras, dependendo da ontogenia e localização. No Sistema Nervoso Central (SNC), a micróglia atua como uma população independente e auto-renovável, ou seja, não é substituída por monócitos circulantes. Contudo, tanto os espaços perivasculares quanto as meninges são povoados por uma variedade de células mielóides, tanto na homeostase quanto em processos patológicos. Já foi descrito que existem canais vasculares ossificados diretos que conectam a medula óssea do crânio às meninges, permitindo assim a migração de células imunes durante a inflamação. A hipótese dos autores de um trabalho publicado na Science em 3 de junho de 2021, é que essas conexões também podem permitir o tráfego mielóide homeostático entre os nichos meníngeos e da medula óssea adjacentes. Para compreender a origem das células mielóides, o objetivo do grupo foi investigar se os nichos da medula óssea associados ao SNC no crânio e nas vértebras são reservatórios mielóides para as meninges.

O grupo de pesquisa do professor Kipnis, da Washington University, utilizou de parabiose entre animais WT e animais GFP+ para células hematopoiéticas (animais que expressam GFP controlado pela região promotora da ubiqutina C humana UBC-GFP) e, elegantemente, de transplante de calota craniana de animais GFP para animais WT, para demonstrar que monócitos e neutrófilos que estão presentes na dura-máter craniana ou vertebral são constantemente providos pela medula óssea presente na calota craniana ou em vértebras através de canalículos ósseos durante a homeostase. Além disso, em contextos de inflamação do SNC, como esclerose autoimune experimental (EAE), lesão causada pelo rompimento do nervo óptico ou na medula espinal, os monócitos que infiltram no SNC possuem parcial origem da medula óssea adjacente. Já os neutrófilos que infiltram no SNC no caso do EAE e lesão causada na medula espinal, possuem origem estritamente sanguínea. Ademais, é interessante observar que monócitos que infiltram no SNC em caso do modelo de EAE, apresentam diferentes origens, como a medula óssea adjacente ao SNC, mas também infiltram a partir do sistema sanguíneo. Esses monócitos com origens diferentes também dispõem de fenótipos diferentes, sendo os monócitos sanguíneos associados com migração leucocitária, aderência e ativação de linfócitos T, além de apresentarem potencial próinflamatório.

Desta forma, os resultados apresentados remodelam nossa interpretação dos eventos neuroimunes que ocorrem nas bordas do SNC sob condições fisiológicas, assim como também em condições inflamatórias, como exemplificado aqui pelo modelo de EAE.

Figura retirada do artigo apresentado, ilustra (A) que camundongos WT foram unidos por parabiose à camundongos UBC-GFP e em 60 dias depois foi (C) demonstrada a frequência de monócitos e neutrófilos GFP− e GFP + entre os tecidos descritos na imagem.

PUBLICADO POR
Vânia Bonato
Colunista Colaborador
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