Anticorpos neutralizantes na COVID-19: o presente do sistema imune para você
27 de abril de 2021
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Por Luara Isabela dos Santos: coordenadora e professora das disciplinas de Imunologia e Genética aplicadas a Medicina na Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG). Pós-doutora pela Universidade Federal de Minas Gerais (2018), pelo IRR/FIOCRUZ-MG (2014 e 2016/17) e pela Universidade de Oxford/Inglaterra (2015). Possui graduação em Farmácia com ênfase em Bioquímica/Análises Clínicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (2007) e título de Mestrado (2009) e Doutorado (2013) em Imunologia pelo departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG.

Se você pudesse escolher um presente especial de Natal antecipado o que escolheria? Eu escolheria abraços e anticorpos neutralizantes. Os abraços são uma escolha óbvia pela falta que eles fazem em nossa vida, seja para aquela comemoração ou até para reconfortar em algum momento difícil. Já os anticorpos neutralizantes não são tão óbvios assim, mas eles são muito parecidos com abraços no meio dessa pandemia. 

 

Os anticorpos são produzidos graças a nossa resposta imunológica e seriam os soldados da nossa resposta imune. E qual a relação deles com os abraços? Estamos em uma guerra contra o vírus e esses soldados são capazes de ligar ao vírus ficando ao redor dele e impedindo que ele consiga entrar nas nossas células, por isso o nome neutralizante. É como se eles estivessem abraçando o inimigo para que ele não consiga te fazer mal. Nem todos os anticorpos são capazes de realizar essa neutralização, assim como nem todo abraço te traz toda aquela alegria ou conforto que você deseja. 

 

A presença dos anticorpos neutralizantes (NAbs) contra o SARS-CoV-2 são considerados bons correlatos da proteção na COVID-19 e têm sido extensivamente estudados. A compreensão do tempo de produção desses anticorpos e da duração deles diante da infecção natural e, preferencialmente, pela vacinação, permitirá um acompanhamento mais efetivo da imunidade induzida na população (1,2). Os estudos relatam que muitos pacientes com a COVID-19 desenvolveram respostas com NAbs na segunda semana da doença e permaneceram com níveis detectáveis até 209 dias do início dos sintomas (2). No entanto, a proporção de pacientes que desenvolvem essa resposta varia muito e há uma relação com a presença dos sintomas e gravidade da doença (2,3). A maior quantidade de NAbs é observada nos pacientes com quadros mais graves (2,4). E, é importante relatar que, mesmo com infecção documentada e doença moderada, alguns pacientes possuem níveis indetectáveis de anticorpos (5).

 

Nos estudos que avaliam as estratégias vacinais, muitos demonstram a capacidade de produção dos NAb diante dos diferentes tipos de vacinas. Mais recentemente tem sido avaliado a capacidade de neutralização desses anticorpos presentes no soro dos vacinados diante das variantes do vírus. Os resultados são diversos e dependem da estratégia vacinal avaliada e quais variantes foram utilizadas. Alguns estudos relatam NAbs efetivos contra algumas variantes (6) e outros mostram a redução da capacidade de neutralização (7–9). Mesmo os resultados desfavoráveis não significam que as vacinas não irão prevenir contra a COVID-19. Os anticorpos não são os únicos soldados do nosso sistema imune e, um outro tipo de resposta imune, a resposta celular tem um papel extremamente relevante no controle do vírus. Voltemos aos abraços... é como se alguém lhe falasse todas as palavras que acalentam o seu coração e mesmo que você não possa mensurar essas palavras de forma fácil, elas estão ali, e te tocaram da mesma forma que os abraços.

 

Ainda há muito a ser compreendido até chegarmos no Natal, mas, até lá, eu desejo a você, nesta semana da Imunologia, muita saúde, e que você contribua com o seu sistema imunológico para que, após a vacina, todos estejamos liberados para os tão esperados abraços. 

 

Referências

  1. Addetia, A. et al. Neutralizing antibodies correlate with protection from SARS-CoV-2 in humans during a fishery vessel outbreak with a high attack rate. J. Clin. Microbiol. 58, (2020).
  2. Lau, E. H. Y. et al. Neutralizing antibody titres in SARS-CoV-2 infections. Nat. Commun. 12, 1–7 (2021).
  3. Long, Q. X. et al. Clinical and immunological assessment of asymptomatic SARS-CoV-2 infections. Nat. Med. 1–5 (2020). doi:10.1038/s41591-020-0965-6
  4. Seow, J. et al. Longitudinal observation and decline of neutralizing antibody responses in the three months following SARS-CoV-2 infection in humans. Nat. Microbiol. 5, 1598–1607 (2020).
  5. Wu, F. et al. Evaluating the Association of Clinical Characteristics with Neutralizing Antibody Levels in Patients Who Have Recovered from Mild COVID-19 in Shanghai, China. JAMA Intern. Med. 180, 1356–1362 (2020).
  6. Edara, V. V., Hudson, W. H., Xie, X., Ahmed, R. & Suthar, M. S. Neutralizing Antibodies against SARS-CoV-2 Variants after Infection and Vaccination. JAMA - Journal of the American Medical Association (2021). doi:10.1001/jama.2021.4388
  7. Garcia-Beltran, W. F. et al. Multiple SARS-CoV-2 variants escape neutralization by vaccine-induced humoral immunity. Cell 0, (2021).
  8. Wang, Z. et al. mRNA vaccine-elicited antibodies to SARS-CoV-2 and circulating variants. Nature 592, 616 (2021).
  9. Zhou, D. et al. Evidence of escape of SARS-CoV-2 variant B.1.351 from natural and vaccine-induced sera. Cell 189, 1–14 (2021).

 

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